Síndroma D.E.M.

domingo, dezembro 28, 2008

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Prometo não fazer nenhum balanço sobre o ano que agora está dando os últimos suspiros, até porque foi para (quase) todos um ano complicado e bem espremido serão poucas as coisas boas que dele podemos extrair. Apetece-me antes falar de outro assunto, embora não esteja assim tão desligado da situação actual que o mundo atravessa: o surto epidémico de desonestidade que grassa por aí. Aflige-me sobretudo, ou melhor será dizer, deixa-me perplexa, a desonestidade emocional a que muita gente se agarra para conseguir colocar alguém do sexo oposto na posição horizontal (ou vertical, ou de quatro, tanto dá…). Ensaiam encarnar um sentimento que não têm e por não o terem assemelham-se a cópias de qualidade mais do que duvidosa. Fazem-me sempre lembrar o “Joker”, arqui-inimigo do Batman, cujo sorriso forçado de orelha a orelha cheira a falso a léguas de distância. Iguais a um artigo de contrafacção, à primeira vista (e à distância) até parecem genuínos e de início nem dá para acreditar na pechincha caída dos céus aos trambolhões, (o melhor é mesmo não acreditar, porque…) quando se atentar nos pormenores facilmente se verifica que se o levar para casa estará a ser ludibriado e terá dado por mal empregue o dinheiro que gastou na sua compra, pois não tarda nada estão cheios de borbotos ou de forro rasgado ou desbotados com a lavagem. Com certos homens (e suponho que com certas mulheres) o mesmo acontece. O homem atacado pelo vírus da desonestidade emocional luz à distância qual farol da Boa Nova em dia de tempestade e quase nos faz acreditar que a nossa jornada de solitários lobos-do-mar navegando à deriva nesse mar sentimentalmente desértico está prestes a chegar ao fim, acenando-nos com a miragem dum tranquilo porto de abrigo. Inicialmente, temos a tentação de pensar que com um único bilhete de lotaria nos saiu a sorte grande e a terminação, acumuladas ainda com o cabaz de Natal, prémio das rifas compradas na papelaria do bairro. No entanto, lá diz o ditado: nem tudo o que luz é ouro e à escassez do metal precioso, o mais certo é mesmo não o ser. E nada melhor se aplica ao desonesto emocional que esse ditado. Temo bem que nem latão do mais rasca essa espécie possua por baixo da estaladiça camada de brilho ofuscante. Sempre ouvi dizer que quando a esmola é grande, o pobre desconfia. E neste caso é bom que se desconfie mesmo, porque para esse homem não há nada maior do que a sua descomunal ambição em ludibriar sentimentalmente alguém e deve sentir o ego inflado quando pensa que tem a sua vítima na mão (é provavelmente daí que vem a expressão: vir comer à mão...). Para ele não basta assumir-se como ser emocionalmente estéril e viver de acordo com esse principio, do qual muitos de nós não comunga, mas que quando declarado abertamente é tão válido como qualquer outra filosofia de vida. Mas isso não é suficiente. O desonesto emocional colecciona “vítimas” e o seu prazer advém daí. Quase juraria que como um verdadeiro serial killer que se preze, o desonesto emocional tem uma peça de cada uma das suas vítimas guardada dentro duma caixa de sapatos como troféu. Mesmo que a caixa não exista fisicamente, de certeza que a possui enterrada no cérebro e frequentemente a abre para se masturbar no gozo do seu arquitectado embuste. Contudo, à conta da sua frivolidade o desonesto emocional é, felizmente, na maior parte dos casos, facilmente identificável. As suas palavras ocas batem sempre a mesma tecla: o seu enorme “sentimento” por alguém e de como esse “maravilhoso” alguém iluminou a sua “miserável” existência, apesar de se borrifar para coisas tão básicas e para pormenores tão simples como a cor que mais gosta ou a sua comida preferida. A paciência não é o seu forte (o mundo está cheio de potenciais “presas” e por isso há que despachar a actual rapidinho, porque a próxima vítima é sempre a mais apetecida, ou se der para acumular várias ao mesmo tempo, melhor ainda… aí é o verdadeiro Paraíso na Terra!) e num pseudo “relacionamento” com um desonesto sentimental tudo gira à velocidade estonteante da luz, o que leva muita gente a confundir isso com a força incontrolável da paixão, nem desconfiando que tudo já terminou quando pensam que está tão somente a começar. A vida dum desonesto emocional é cheia de hiatos, verdadeiros buracos negros que ocultam a real aridez sentimental, e coberta de inúmeros detalhes cuja “cara nunca bate com a careta”. O desonesto emocional, tão ciente das suas lacunas emocionais, sabe que tem de “dourar a pílula” de forma a parecer ser o que não é. É o primeiro a mostrar-lhe as fotos da mãe, do pai, do cão, do periquito, da casa onde nada falta… excepto, é claro, a mulher ideal, a qual tem vindo a procurar a vida toda, mas… “infelizmente” ainda não encontrou a sua “cara-metade” (eu adoro expressão de cara-metade… vislumbro logo alguém partido ao meio saltitando perneta e desnorteado pela vida fora, à procura da outra metade-pessoa com quem se encaixará em jeito de puzzle para se sentir um ser completo… ai, ai! digam lá se não é tão romântico..???). O desonesto emocional não imagina que existam mulheres que procurem num homem muito mais do que doces palavras, elogios bacocos ou ideais de romance que passam por montagens de puzzle, sejam eles de 2 ou de 1.000 peças. Nem sonha que existam mulheres que não tenham como ideal masculino a encenação patética do Príncipe Encantado da Branca de Neve. A nós, simples mulheres “ralé”, basta apenas estar com atenção aos detalhes e dar ouvidos à nossa intuição quando esta faz tocar os alarmes completamente desaustinada. Com esses pequeníssimos esforços é possível detectar a presença do vírus à distância e evitarmos ser infectadas por ele. Preocupante é mesmo a velocidade que esta epidemia tem vindo a multiplicar-se. A continuar este aumento astronómico de desonestos emocionais masculinos, temo que a OMS se verá forçada a declarar calamidade mundial e iniciar a vacinação massiva da população feminina qual vacina contra o cancro do útero…