Infidelidade

sexta-feira, dezembro 15, 2006

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Nas últimas semanas, têm sido várias as pessoas que vêm parar ao meu blog, através da pesquisa que efectuam no Google, com frases do género: “como lidar com infidelidade”. Muito provavelmente, ficam desapontadíssimas por não encontrarem aqui solução para o seu problema e devo confessar que se alguma vez eu soubesse a resposta, vos garanto, ficaria rica com as vendas milionárias do livro de título bombástico do género: “aprenda a sobreviver à infidelidade e liberte a fera que há em si”. Infelizmente nada sei que possa transmitir aos outros sobre o assunto. Não que não tenha já sido traída (já perdi a conta às vezes que aconteceu…), não que não tenha já traído. Contudo, penso que nunca se aprende a lidar com isso. Com a experiência aprende-se, isso sim, a minimizar os estragos, recolhendo os cacos que qualquer infidelidade provoca, e a seguir em frente mais rapidamente. Nas primeiras vezes, julga-se que se morre de tanto sofrimento interior e os olhos ficam vermelhos e inchados, durante semanas, de tanto choro. Nas outras, a dor é igualmente forte, apenas o tempo de lamentação vai encurtando, de modo que os olhos ou nem chegam a ficar vermelhos, ou até mesmo se mantêm secos, sem lágrimas. Devo confessar que é um tema que me fascina. O que leva alguém a ser infiel? Será que o ser humano não possui “genes” da fidelidade? Toda a gente já foi infiel pelo menos uma vez na vida, ou há alguém que tenha sido sempre fiel (mesmo em pensamento) ao seu companheiro? Consegue-se ser fiel a certa pessoa e a outra não, ou quem é infiel é-o sempre? Ser infiel é sinónimo de traição ou poderá não ser? Porque se sente o ser humano traído com uma infidelidade? Consegue-se verdadeiramente perdoar uma infidelidade / traição?
Penso que terão sido muito poucos ou mesmo nenhuns os homens que em relacionamentos afectivos me tenham sido fiéis. Muito azar da minha parte ou sou simplesmente realista e detecto sinais que a outros passam completamente despercebidos ou que preferem ignorar? Não sei. Provavelmente as duas coisas. Da minha parte, fui infiel uma vez. A pessoa visada nunca o soube. Certo é que isso deixou marcas, mesmo que invisíveis aos outros, a ponto de eu terminar a relação pouco tempo depois. Embora, não tendo sido a causa principal foi a gota de água que faltava para que o copo transbordasse. Creio que tomei consciência que se tinha sido infiel é porque algo de importante faltava dentro do relacionamento e sem possibilidade dessa vertente ser acrescentada, optei pela ruptura.
Neste post vou deixar os leitores contarem as suas vivências. Como já disse, é um tema que me fascina e, por isso, gostaria de saber as vossas experiências. Podem optar por responder às questões que acima coloco ou pura e simplesmente contar a vossa narrativa. Acima de tudo, gostaria que contassem porque e em que circunstâncias foram infiéis ou como reagiram quando souberam duma infidelidade. Não preciso de saber nomes, podem optar pelo anonimato, se preferirem.
Obrigada!

Vinicius de Moraes (ainda e sempre...)

domingo, novembro 26, 2006

7 Comentários

Que me perdoe, quem é leitor assíduo deste blog. Eu sei que já era tempo aligeirar a coisa com um post divertido e cheio de humor, dizer umas graçolas pelo meio, ou falar mal de alguém (ou do governo - com tanta gente descontente com as políticas actuais, esta solução resulta sempre). Já recebi algumas reclamações pelo blog estar a ficar muito "deprimente". Mas que se lixe: o Blog é meu! Parafraseando o meu irmão Paulo: "quem não gosta da pinga, muda de tasco!". E assim sendo, transcrevo o poema de Vinicius de Moraes "Soneto de Separação" que é o que me apetece postar neste momento:

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

E por falar em pinga, está uma noite mesmo apropriada para "dar de beber à dor", à alegria, ao amor, ao ódio, à amizade, à inimizade, à fidelidade, à infidelidade, à paz, à guerra, enfim... àquilo que cada um quiser! Quanto a mim, vou brindar aos homens, para que tragam doravante livros de instruções, de preferência com esquemas e figurinhas (não se esqueçam que, embora não sendo loira, estou loira e por isso a coisa tem que ser bem esquematizada e explicada para que não haja enganos de maior). Mas não se preocupem, eu bebo um copito a pensar em vós...! Faço-vos esse favor, não me custa nada! À Vossa...!

Schhhhh...!

terça-feira, novembro 21, 2006

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Schhhhh...! Por favor, não digas nada. Ajuda-me a eternizar este momento, guardá-lo indefinidamente em local hermeticamente seguro e inviolável, mesmo quando a palavra nós já não fizer mais sentido, mesmo quando já só houver vento gélido no lugar do sentimento que um dia pulsou mais que a própria vida. Quero mergulhar, uma vez mais, no teu olhar, esse mar tranquilo que me cobre em suaves vagas de ternura, depois de amainada a fúria embriagante do desejo devorador e prolongar-me nele, esquecendo-me de toda a mágoa que possa alguma vez ter vivido. Deixa sentir-me nos teus braços, de temperatura e medida exactas para acolher o meu corpo languidamente extenuado, e ao mesmo tempo, capazes de abarcar o mundo com a sua inquebrantável vontade de divergir do plano mortal. Que diferença faz que o amanhã seja o planeta mais distante da nossa galáxia quando te tenho inteiro aqui e agora, sem passado nem futuro, apenas mansamente meu, protegido no meu mundo, esquecido da vida que se esgota convulsivamente para lá destas cúmplices paredes, se é para aqui que as nossas forças convergem sempre que materializamos o estado de equilíbrio dentro de nós? Schhhhh…! Não digas nada. Até o velado silêncio nos denuncia!

Contradições

segunda-feira, novembro 06, 2006

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Esta impossível e contraditória vontade de partir sem qualquer memória dos teus gestos e, ao mesmo tempo, de ficar eternamente embrulhada na tranquila aura do teu aquietado corpo corrói-me a boçalidade dos dias dolorosamente lentos. Há muito, deixei de ser água cristalina para me envolver em marés agitadas, prenhas de indecisão, quebradas ao meio nos penhascos “adamastorados” das minhas dúvidas. Não consigo pronunciar na 1ª pessoa do singular a lógica racional do pensamento concreto. Coabitam claustrofobicamente neste mesmo exíguo espaço conturbado, a vivificante fúria de te amar incondicionalmente e o determinado propósito de te ferir fundo com a minha dor, deixando-te órfão de mim, perdido do meu fulgor, procurando erraticamente a minha fugaz sombra no ébano vazio da noite. Definho lentamente à sede da tua boca fugidia (de que forma se sobrevive ao lento agonizar da chama exposta à crueza dos elementos?). A indefinida espera faz ressequir o meu desejo mais espontâneo, o mais verdadeiro, primordial centelha transformadora de toda a essência. Estilhaço-me, assim, em fino pó invisível, lançado desprotegido ao vento estéril do Outono.

A Traição

segunda-feira, outubro 23, 2006

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A porta não demora mais que um escasso momento para ser aberta despudoradamente, sem um único suspiro de lamento das dobradiças que cedem obedientes ao movimento de profanação, deixando antever o esconderijo dos dois corpos despidos, emaranhados de luxúria e prazer que num primeiro instante nem se apercebem que já não estão salvaguardados do segredo cúmplice das quatro paredes. Nenhum deles profere qualquer palavra quando descobrem por entre a penumbra excitada do quarto o vulto negro, imóvel que abandona o manto pelas costas, deslizando-o desamparado até aos pés da cama. O seu braço erguido treme de desprezo e raiva quando desfere o açoite inicial de chicote que vibra em compassos sibiladamente ritmados, numa selvática percussão que a deixa sem fôlego, exausta de todas as infidelidades suportadas em silêncio e surda aos gritos doridos de ambos os amantes cruamente expostos, esvaindo-se rapidamente na dor em catarse, numa sessão de auto-exorcismo. Não consegue pôr fim ao ritual de sacrifício desse conturbado e malfadado amor egoísta, enraizado em sucessivas traições decadentes e em perdões tacitamente enredados no silencioso assentimento de receber o seu homem todas as vezes que o sabe embrulhado em água de cheiro barata. Nenhum dos amantes consegue reagir à flagelação do juízo final, sentenciado e decretado sem qualquer apelo nem agravo. Não tem percepção de quantas vezes desfere cegamente golpes a esmo, até que alguém lhe segura energicamente o braço pelo pulso.

- Minha Senhora, por favor pare, não merece humilhar-se dessa forma.
- Toda a gente sabe, Sebastião… Toda a cidade sabe o doidivanas que ele é e riem-se na minha cara…! Sou a chacota da terra!
- Por favor, venha comigo! Deixe-me cuidar da sua face. Está ferida! Provavelmente magoou-se com o chicote. Venha…
- Podes voltar para casa. Quando lá chegares já não estou…! Não te quero ver mais à minha frente!
- Venha, peço-lhe. Falará depois com o Patrão, com mais calma. Agora não é a melhor altura.
- Desgraçou a minha vida, sabes Sebastião? Sou o escárnio de todos…
- A Senhora é melhor do que todos eles. Não se deixe levar por contos e ditos!
- Desta vez eu vi. Não imaginei coisas… Eu vi, Sebastião! E tu és testemunha de todas as suas traições. Sempre soubeste e encobriste-o! Não fosse eu meter pés ao caminho e ver com os meus próprios olhos...
- Eu sei minha Senhora, mas eu quis protegê-la de todo esse sofrimento… Agora aquiete-se. Deixe-me limpar-lhe o sangue da cara.

I Love You Baby!

terça-feira, outubro 10, 2006

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Só quero refazer aqueles últimos 30 segundos. Intermináveis! Eterno filme em “slow-motion” que passa vezes sem conta dentro do meu cérebro, numa obsessão autista, até não ser capaz de afugentar mais as imagens, até cair em letargia cataléptica, anestesiada pela exaustão... Só peço isso: poder alterar os fatídicos últimos instantes na mesa de montagem, desta vida de classificação B, poder devolver-lhe a alegria adolescente com que invadia o meu dia-a-dia, poder dar a minha vida pela dele! Ser forte para o proteger de todo o mal – meus braços não foram suficientemente capazes para o prender à vida – ser Deus para retroceder no tempo e repor a justiça numa existência destroçada impunemente e sem propósito, assim: em fracção ínfima dum momento. Isso, queria ser Deus para reparar o mal que Ele sadicamente Espalhou – sim, Deus, estás a ouvir? A Ti, que tudo é possível, porquê aniquilá-lo dessa forma? Porque não eu? Jamais me importaria de ser eu. Então, para quê destruir os seus inofensivos sonhos de menino que abarcava o mundo nos seus projectos? Tu, que tudo Podias, nada Fizeste! Se isso fazia parte dos Teus planos, para quê deixá-lo crescer na esperança? Para quê deixar-me viver a minha mais perfeita esperança através do seu olhar? A sua voz repete-se incessantemente em mim numa última frase “Mãe, tenho medo…!” – não tenhas Amor, não vou deixar que nada de mal te aconteça. Menti, menti, menti…! Jamais me perdoarei por ter quebrado essa promessa de protecção perpétua que por Tua culpa fui incapaz de cumprir! Jamais Te perdoarei que ele tenha sentido o pavor da morte nesse último instante! Só quero voltar ao momento imediatamente anterior (não peço mais nada, só isso – por favor!), quando a vida ainda se agarrava a ele como naufraga em finado desespero e ficar aí, eternamente, alheada do sofrimento em redor, alienada dos suplícios dos outros e permanecer, aí, contigo meu Amor! E dizer-te o quanto te amo! E contar-te pela infinitésima vez, não omitindo qualquer pormenor, o dia em que mudaste a minha vida para sempre! E contar-te as histórias que tu mais gostas, aquelas que ambos polvilhamos com os mais adulterados e subversivos detalhes! E fazer os disparates mais estapafúrdios que te desmancham em saudáveis e claras gargalhadas! E prometer-te o “Labrador” que pedes há imenso tempo, mas que evito sempre com o politicamente correcto: “Vamos ver…”! E sentir o calor do teu abraço apertado à volta do meu pescoço, que quase me sufoca de alegria! E ouvir-te no teu perfeitíssimo, irrepreensível sotaque “I Love You Mum” (I Love You Too, Sweetheart)! E ficar aí, para sempre… contigo!

Delícias do Futebol

sábado, setembro 30, 2006

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Os meus amigos – homens – que me perdoem. Tenho consciência que vou ferir os seus sentimentos futebolísticos com este “post”, no entanto é como eu encaro esse jogo por eles adorado e idolatrado, que os faz deixar mulher, namorada ou amante à rédea solta (penso que algumas já descortinaram das enormes vantagens que é estar 4 horas, ou mais, sem eles – sim, porque a seguir, vem o ritual de comer com os amigos de beber umas cervejas, de discutir ao ínfimo pormenor as falhas do arbitro, os golos que eram para ser, mas por grande galo não foram, apenas porque não contam os remates por cima da trave como no râguebi, o que é duma grande injustiça, diga-se de passagem!!! - e conseguem entreter-se também elas com outros assuntos tão ou mais interessantes que o futebol…). Bom, a minha cultura futebolística não é das piores, garanto-vos: sei o que é um fora de jogo, uma falta para cartão amarelo ou vermelho, reconheço uma falta para penálti, livre directo, indirecto, etc., reconheço os jogadores (os que vêm nos cromos, os outros, tenho de me penitenciar, por vezes confundo os clubes onde jogam – também com tantas transferências, quem tem cabeça para decorar tanto nome novo, ainda por cima quase todos acabados em “ilson”?) mas, mesmo assim, não consigo vibrar pelo jogo, da mesma forma que por… certos jogadores… que querem que eu faça??? Já fui sócia do F.C.P. o qual continua a ser o meu clube do coração. Aos 20 anos, amigos meus, fervorosos adeptos – diria até, doentes - convenceram-me a inscrever-me e lá recebi o cartão do F.C.P. com a minha foto apensa, certificando, que a partir daquele momento tinha a honra de ser sócia do clube dos “Dragões”! Lá me convenceram também a assistir aos jogos a partir da bancada. E posso-vos garantir que foi uma experiência e tanto…! Havia apenas um pequeníssimo problema quando era marcado um golo: eu estava maravilhada com as pernas dos jogadores (não necessariamente pelas dos que marcavam os tentos!) e quando toda a gente gritava em uníssono “GOOOOLO!!!!!!!” era sempre apanhada desprevenida! E pior ainda, é que não havia “Replay”, para que eu conseguisse finalmente atestar a veracidade da afirmação dita em coro pela assistência! Não via os golos é certo, mas posso confirmar com profundo conhecimento de causa, que melhores pernas que as do Mike Walsh não havia naquele bendito campo! Os meus amigos acharam estranho que eu quisesse acompanhá-los ao futebol sempre que o Porto jogava em casa, pois que nunca conseguia ver os golos, mas deduziram que a “febre da bola” tivesse-me atacado com toda a força e que o meu delírio clubístico era devido aos resultados inesquecíveis que o Porto conseguiu naquelas épocas de tão boas memórias! É claro que à força de tanto ver o jogo, acabei por aprender as suas regras básicas, mas o que era isso diante do vislumbre dum Lima Pereira, encarnação perfeita da espécie masculina? Simplesmente nada! Queria eu lá saber que o Fernando Gomes fosse eleito bota de ouro, que o Frasco fosse um óptimo jogador apesar do seu tamanho, que a equipa tivesse jogadores de fibra como o Jaime Magalhães, e o Zé Beto, que o calcanhar de Madjer valesse puro ouro (golo monumental aquele na final da taça dos campeões europeus) …! É claro que todo esse encanto pelo desporto rei se desmoronou quando esses 2 portentos saíram do Porto (Mike Walsh, primeiro, e depois Lima Pereira, se a memória não me atraiçoa). Mas, mal sabia eu que, alguns anos mais tarde, voltaria a ser acometida pelo “bichinho” do jogo (desta vez, adepta de sofá em frente ao televisor – única maneira de poder ver, finalmente, os golos!) quando me é dado a saber que a baliza do Porto era defendida (e muito bem, diga-se em abono da verdade) por um tal de Vítor Baía (mas alguém consegue não ser fã daquele homem????)! É claro que acho duma tremenda duma injustiça não ter sido convocado pelo Scolari para o Europeu nem para o Mundial. É claríssimo como água que é muito melhor guarda-redes que o Ricardo (e mesmo que não fosse, de certeza que seria eleito o jogador mais lindo desses dois campeonatos, o que nos faria ganhar qualquer coisa mais do que a grande dor de corno com que ficamos, primeiramente com os gregos e este ano com os franceses - eles outra vez, ainda e sempre!). É duma tremenda injustiça não ser agora titular! Helton pode defender muito bem as redes, mas não lança charme para as bancadas na mesma proporção (qualquer mulher no seu perfeito juízo sabe do que falo)! Daí o meu apelo ao treinador Jesualdo Ferreira: para a manutenção da sanidade mental das fãs do F.C.P. (e olhe que são bastantes!), peço-lhe, por favor, deixe o nosso menino jogar!

Encontros Imediatos - Parte I

terça-feira, setembro 19, 2006

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Laura! Laura! Rapariga! Então? Presta atenção ao que ele te diz, menina! Não demora muito e ele vai notar! “Querida, estás diferente. Distante. Que se passa?” Não tarda nada vais ouvir a pergunta qual punhal desembainhado, apontado ao estômago e para quê? Faz um esforço, por amor de Deus, concentra-te. Não deixes que ele perceba, por favor! Para quê deitar tudo a perder agora? Daqui por uns dias tudo volta à normalidade. Isso, recompõe-te. Diz que vais aos lavabos… Inventa qualquer coisa! Sai daí o quanto antes! Ele já notou o teu esgar disfarçado de sorriso e o teu alheamento é mais do que evidente. OK! Ganhaste uns minutos para reorganizar os teus pensamentos e os teus gestos. Que calor faz dentro deste cubículo minúsculo! Pelo menos há água para te refrescares! Isso, assim está melhor… Vais ter de retocar a maquilhagem. A água desfez o risco em fios de preto, pela face abaixo! Orlando ainda não enxergou a dimensão completa da situação, mas não é parvo. Sê esperta miúda, ou num ápice ele somará 2+2! Não deites tudo a perder por causa duma aventura dumas horas! Mas porque raio ele havia de aparecer justo aqui? Com tanto restaurante na cidade, tinha de vir jantar aqui, hoje, a esta hora? E quem é ela? Bonita, sim. Interessante, mas um pouco cabide de vestiário. Muito magra! Namorada? Mulher? Não disse que era casado… Também que importa? Vocês não se vão encontrar mais nenhuma vez, por isso, que diferença faz? Se bem que aqueles beijos e aquele fogo todo, Deus Meu…! Faz-te pensar duas vezes, não é? Laura, acorda mulher! Queres colocar em risco o teu casamento por causa dum homem que mal conheces? Bom, podes não conhecer muita coisa dele, mas aquele desejo em forma de carne, Nª Srª do Carmo!!! Esse, tu já conheces e de que maneira! Humm... é bem notória a diferença entre ti e ela! Escanzelada! Estás com tudo no sítio e com muito mais curvas que aquela lá! Sabes que sim. Mesmo depois destes anos todos de casamento Orlando ainda olha para ti com tesão. Tu sabes disso! Mais uma razão para deixares de pensar nele, porra! Mas porque raio te deixaste envolver? Se ele ligar tu não atendes, estás a ouvir? Nem que ele entupa o telemóvel de sms’s não respondes! Ponto Final! Ouviste bem? O Orlando nunca te iria perdoar! Vai, vai lá ter com o teu marido, já estás aqui, faz tempo! Olha para ti! Estás muito bem assim! Só tens que colocar esse teu sorriso radiante e vais ver que tudo dará certo…!

Hoje Não Estou

terça-feira, setembro 12, 2006

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Hoje não estou. Parti para parte incerta, algures entre a inquieta ânsia e a letárgica tristeza. Estava tão feliz…! Acreditava ter conseguido iludir a existência insípida e castrante, ainda que por breves instantes, mas enganei-me. Era apenas a frágil e sumária paz que antecede as longas tortuosas batalhas. Fio ténue, tão delicado de trégua que teima em não me abandonar à loucura. Quero estar só. Preparar-me para o momento, antever o provir e aguardar a investida final. Esperar… Esperar… Esperar…! Nesse agitado silêncio expectante, antecipando o minuto zero da contagem decrescente. Desejei tanto que não fosse (mais uma vez!) assim. Não estou para ti. Deixei que o tempo, memórias apressadas pontilhadas de fugaz felicidade, se escapasse entre os dedos incrédulos, achando que poderia reconstruir uma e outra vez o momento exacto, perfeito. Muita ingenuidade minha! Uma vez guerreira, guerreira toda a vida, mesmo que o corpo dorido implore a paz, mesmo que o espírito se exorcize pela paz. Porque assim será! Sempre!

Adolescência

sábado, setembro 09, 2006

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Poucas memórias ficaram dele, pois nem mesmo me lembro da sua aparência ou do seu nome. Recordo-me somente que eu era mais velha que ele talvez uns 2-3 anos. Mas foi com ele que desvirginei meus lábios em beijos loucos de carne e saliva. Finalmente, alguém me desejou com tesão desesperado e urgente, não dando segundos pensamentos ao que estava a ser vivenciado poderia ou não ser traduzido em poesia. É claro que o meu adolescente projecto a homem, enevoado pelo torpor sexual, nunca tinha ouvido falar da poesia erótica e nem eu me atreveria a quebrar o momento com alguma dissertação sobre o assunto, embora tenha uma vaga ideia de lhe ter cantado “Strangers in the Night” de Frank Sinatra, o que deixou o rapaz bastante confuso e achando que eu não regulava bem.
De volta ao Porto, as novas experimentadas sensações não saíam do meu pensamento e o meu lado romântico de heroína de romance de cordel soltava-se a cada passo, fantasiando memórias futuras com o meu excitável adolescente que nunca ganharam estrutura nem pés para andar.
Voltei a estar com ele umas semanas depois, mas o encanto tinha-se quebrado. Quando me beijava não conseguia sentir o fogo e vontade de o devorar que havia sentido da 1ª vez. Os beijos ainda que gulosos não traziam a paixão com eles. E o adolescente, que aprendia rápida e vorazmente as lições de Braille, queria mais do que troca de fluidos e de línguas entre as nossas bocas.
Quando senti uma mão desajeitadamente frenética procurando algo entre as minhas coxas pensei, apesar dos amassos e beijos despertarem-me calores apenas sonhados vagamente, aquele jovem tinha muito caminho para percorrer até saber tocar no prazer duma mulher. Mas porquê criticá-lo, se há homens adultos que até hoje não o sabem, nunca o souberam e têm imensa raiva de quem sabe? Bom, a exploração às partes íntimas quedou-se por ali para grande desagrado dele, pois já teria, paralelamente aos meus sonhos, idealizado outros sonhos mais palpáveis.
Contudo, a minha veia romântica é viciada até hoje e mesmo nesses anos iniciáticos já fazia das suas. Assim, mesmo tendo achado que o meu jovem assanhado não seria bem aquilo que eu necessitava, decidi enquadrá-lo no meu modelo de “amor louco, eu morro se não te vejo, se não te sinto aqui e agora”. Desnecessário será dizer que o rapaz era muito mais esperto que eu, no que toca a perceber o que são vibrações físicas entre dois corpos de sexos opostos e rapidamente tinha encontrado substituta mais colaborante para prosseguir os seus estudos profundos sobre o corpo feminino. Chorei algumas lágrimas, é certo, mas se for honesta, não posso afirmar que fiquei inconsolável durante muito tempo.

A Casa

quarta-feira, setembro 06, 2006

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Desci a rua, encadeada pelo sol impiedoso de Verão e pela ausência de referências que preenchiam a minha memória. Seria aqui? Estaria no sítio certo? Faltavam-me o riso e as corridas em tropel, ladeira abaixo, das crianças. As conversas das vizinhas, que cruzavam transversalmente o empedrado da calçada, de janela a janela. Os latidos dos cães que se juntavam à excitação ruidosa da pequenada e pulavam em seu redor.
Agora, havia apenas o barulho distanciado do matraquear mecânico e abafado das locomotivas que passavam bem por cima da rua, e se esticavam, qual serpente ao sol, com as suas carruagens, sobre a ponte com nome de santo popular. Sentei-me no muro baixo de pedra, que provavelmente havia conseguido, anos antes, camuflar-se, ludibriando os buldozers. À minha frente, um espaço vasto, esvaído de recordações, alicerçado, lá mais ao fundo, aos pilares da ponte. Com uma certa agilidade, consegui esboçar mentalmente cada ínfimo pormenor da casa, mas não estava certa da sua localização exacta. A sala de entrada, lugar polivalente, onde funcionava, em simultâneo, o cabeleireiro do bairro, onde a minha tia Milú penteava em “mises” e “permanentes” rebuscadas os achaques das vizinhas, a sala de brincadeiras e de leitura de todos nós (garotos das cercanias incluídos) e local de passagem de vários tufões infantis que diariamente assolavam a porta e se deslocavam vertiginosamente até à cozinha em constantes idas e vindas, capazes de exasperar o mais pacífico dos adultos. O quarto dos meus avós, onde eu, o meu irmão e os meus primos descobrimos, numa tarde de sesta compulsiva, a abertura dissimulada do colchão, por onde o esventramos até à morte da palha e a atiramos uns aos outros em grande algazarra, quais comediantes enlouquecidos. A sala de jantar, passagem obrigatória de todo clã familiar em Natais, Passagens de Ano e Aniversários. A cave, lugar de fascínio, onde o meu avô tentava esconder da nossa estouvada curiosidade, a tipografia e onde vários primos se tisnavam, de quando em vez, com tinta de impressão, a qual era literalmente arrancada da pele em banhos purificantes de água raz.
Mas, em que espaço a minha avó chamava por nós do cimo das escadas traseiras? “… Nando, São, Zé, Nocas, Orlando…!” Era daqui que nós partíamos pelo carreiro estreito, que serpenteava por entre as traseiras das casas, em correrias de índios apaches, com lama na cara, em jeito de pintura de guerra, ao seu chamamento? E os degraus, onde impacientemente nos sentávamos em “escadinha” à espera da sopa que a minha tia Lola distribuía equitativamente e religiosamente por todos, colher a colher, qual hóstia partilhada em comunhão, onde ficavam? Algures por aqui, mas ao certo, onde?
Foi por aqui, nestes terrenos à minha frente, que eu senti pela primeira vez o cheiro da terra recentemente molhada pela chuva – até hoje, é esse odor intenso que me lembro quando penso na infância. Era por ali, mais lá ao longe, talvez, que o meu avô nos dava lições empíricas de zoologia e botânica e teorias igualitárias sobre a vida humana, as quais bebíamos de olhares vivos, num misto de enorme admiração, calcorreando os prados em largos passeios, carregados de flores silvestres para oferecer às mães no regresso.
Quase todos que aqui moravam foram forçados a mudar-se, em nome do progresso e da modernidade dos caminhos-de-ferro portugueses, para blocos de apartamentos camarários que pomposamente classificaram de “conjunto habitacional”. Os meus avós sobreviveram à mudança, mas devido à idade avançada, parte da sua vivacidade ficou desmembrada tal como a casa que deixaram para trás. O sorriso aberto da minha avó e a vontade de mudar o mundo do meu avô implodiram com o passar do tempo e ambos foram desabando lentamente.
As melhores recordações da minha infância estão soterradas ali, algures, nesse espaço vazio…

Histórias de Portugal

domingo, setembro 03, 2006

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Este fim de semana decidi-me a fazer a tão já aguardada arrumação à estante, onde livros, papéis, fotocópias, fotos e algumas recordações se amontoavam em equilíbrio precário, prontos a desabar ao menor espirro. Tarefa nada morosa porque apenas estão coisas que comprei e acumulei depois da mudança para esta casa. Os restantes, principalmente livros, ainda estão ordenadamente empacotados na cave há 9 anos, à espera que a dona os acorde do sono eterno (eu sei que esta revelação não abona nada em meu favor, mas...)!
Bom, isto a propósito que encontrei 1 livro cujo título é: "Nova e Inédita História de Portugal em Disparates II" compilado por Luís de Mascarenhas Gaivão, das Publicações Europa-América. Lembro-me de o ter lido e chorado a rir. Trata-se dum livro construído com respostas erradas dos alunos desse professor. Numa pausa da arrumação, abri-o ao acaso e voltei a desfazer-me em lágrimas de tanto rir. Já que amanhã é dia de recomeço de trabalho para muitos de nós, aqui fica um pequeno extracto de humor, para melhorar o astral:

"Reflectindo as mais diversas motivações afectivas foi elaborada uma questão relativa ao modo como cada um via e o que sentia a respeito do funcionamento da Monarquia Hereditária e se gostaria, por acaso, de viver nesse sistema político.
Eis os pensamentos mais sintomáticos e reveladores dos estados de espírito, começando pelas respostas negativas:
- "Não gostava de viver nessa época, porque iria ser povo e não queria morrer de peste, e ainda por cima não podia ir trabalhar para a terra porque fico logo com bolhas nas mãos."
...
- "Não, porque se eu gostasse de ser rei, tinha de aguentá-lo até morrer, e hoje já não é assim, já é elegido pelo povo de cinco em cinco anos."
- Não, porque não gostava de ser filha dum rei e a riqueza não é tudo o que há na vida; também há saúde e há que pensar nela primeiro."
- "A Monarquia Hereditária é quando a coroa vai de pais para filhos. Não gostava de viver nessa época porque, depois, a coroa ia para mim".
...
- "Não, porque podiam matar-me, ou, se não, mandarem matar-me."
Mas as opiniões não são, apenas negativas, pois há quem gostasse... de viver nesse sistema medieval:
- "Gostava de viver nessa época, só se fosse rainha ou nobre (para ter direitos)."
- "Eu gostava, porque viveria num país onde o rei, quando morresse o filho, subia ao trono."
- "Sim, gostaria, porque o trono passava do meu pai para mim, o filho."
- "Gostava, porque a Monarquia Hereditária é passa de pais para filhos dentro do mesmo sangue, embora eu tivesse de aguentar certas coisas.""

Que o trabalho vos seja leve...

Lua Nova

quinta-feira, agosto 31, 2006

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Hoje, vou escrever sobre alguém que me diz, num jeitinho que só ele tem e com olhinhos de “ratinho perspicaz”, gostar mais de mim que eu dele. Nada é mais falso que essa afirmação. Na história completa da sua vida, existem inúmeros factores, alguns anteriores ao seu nascimento, que comprovam exactamente o contrário. Muitos deles provavelmente nunca os conhecerá. Outros irão ser-lhe desvendados em doses “homeopáticas”, porque necessitarão de ser “digeridos” com alguma calma. Por fazerem parte da sua história pessoal, não me irei pronunciar sobre eles.
A escritora Isabel Allende escreveu no seu livro “Paula” ter sabido intuitivamente o momento exacto da concepção da sua filha. Curiosamente tive essa mesma sensação, muito embora estivesse longe das minhas conjecturas ficar grávida àquela época. E, mesmo antes de saber o sexo, através da habitual ecografia dos 4 meses, sabia que seria um rapaz. Não me perguntem porquê. Era daquelas certezas inabaláveis. Posso garantir que não tinha qualquer preferência, se tivesse nascido uma menina teria sido igualmente uma alegria enorme. A escolha do nome foi pacífica. Teria de ser nome pequeno (João – José – Diogo – Bruno). Após algumas consultas familiares sobre o tema, decidi-me por João que, em hebraico significa: “Deus é misericordioso”.
A maioria das mães e dos pais (felizmente certos homens começam a ser mais interventivos e a aceitar duma forma tranquila o seu lado paternal) sabe do que falo. Quando esses seres pequeninos entram na nossa vida, viram-na de cabeça para baixo sem pedir licença a ninguém. Irremediavelmente somos invadidos por um sentimento de protecção em relação a esse novo ser, mas também em relação ao mundo. Passamos a sentir todas as crianças como se fossem nossas, somos muito mais atentos ao sofrimento dos outros e as injustiças magoam-nos particularmente.
Ainda hoje me lembro da expressão do seu rosto pequenino e curioso quando, acabado de nascer, a parteira o colocou nos meus braços. Chorava naquele sonido de bebé recém-nascido, igual ao miar de gatinho mimado. Bastou que lhe sussurrasse algumas palavras para deixar de chorar e fixar os seus olhos arregalados em mim, num misto de espanto e curiosidade inata que ainda hoje lhe é tão característica. Entre nós, foi amor à primeira vista, que suspeito continuará pela vida fora. Tivemos e temos nossos momentos conturbados de adaptação e iremos ainda discordar de muita coisa (mãe teimosa só poderia ter filho teimoso, não é?). No entanto, a sua chegada foi a maior benção que alguma vez poderia pedir ou sequer imaginar. Por isso o seu nome só poderia ser João. Deus foi misericordioso com ele, mas mais ainda o foi comigo!

Até Amanhã

segunda-feira, agosto 28, 2006

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Ouço o timbre monocórdico da tua voz grave, mas não alcanço o que diz. Reconheço os sons que transporta, mas não descubro em mim seus significados. Despes um bouquet de rosas vermelhas, que me estendes num acto maquinal. Tua boca regurgita incessantemente palavras opacas, suaves, quase submissas, reforçadas pelo amarelo do teu rosto em expressões de servil credibilidade. Fragmentos dispersos e vagos ecoam no branco anémico das paredes:
“Perdoa”, “Não estava em mim”, “Quando bebo”, “Última vez”.
Soam-me tão familiares. Onde os ouvi? Que significam? Não me lembro. Continuamente, disperso distraidamente o olhar pelas tuas mãos cinzentas. Um pavor incontrolável assalta-me de imediato. Sinto instintivamente o gosto metálico do sangue impregnando a boca. Num gesto impensado ergo meus dedos defensivos ao canto dos lábios. O contacto atiçou a dor adormecida! Que mágoa revisitada é esta?
Na minha mão, não enxergo o padrão rubro viscoso que antevi por breves momentos. Apenas a surpresa da palma da minha mão imaculadamente aberta. Apenas o negrume sofrimento que estrangula à nascença o mais inocente dos pensamentos.
Mas as tuas mãos amorfas estão quietas, inertes, tão envergonhadas.
Não entendo. Estou cansada! Quero dormir! Não sei se quero acordar!
Lá do fundo, as palavras não cessam de bater em tudo que se cruze à sua passagem: “Teus pais”, “Já falei”, “Buscar-te”, “Nossa Casa”. Disparas à queima-roupa em estampido final à laia de beijo: “Até Amanhã”.
Que dizes tu, que não te entendo? Em que língua falas?
Sinto a alma espancada até à morte, incapaz de reagir à torrente de palavras sem nexo.
Deixa-me dormir! …Esquecer-me deste cansaço! …Apagar a dor!
…Só hoje!

(Pintura "Até Amanhã" gentilmente cedida por João Afonso Silva)

Estereótipos

sexta-feira, agosto 25, 2006

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Que nós, portugueses, não nos temos em boa consideração, é público. Referimo-nos a nós próprios como um povo triste, pessimista, sempre descrente do futuro. A nossa desgraça é sempre maior do que a do vizinho, mesmo que o desgraçado não tenha onde cair morto e se, pelo contrário, a vida lhe sorri, não falta quem faça conjecturas sobre a proveniência do dinheiro, pois “nós que trabalhamos de sol a sol, mal dá para pagar as contas, como é que ele consegue ter casa, carro e ainda ir passar as férias a Ferragudo?” Já nem falo em férias no Brasil ou outro local ainda mais longínquo, porque então o falatório dá para um ano inteiro! “É dinheiro “sujo” – só pode ser!”
Que o povo brasileiro não saiba muito sobre a nossa cultura é também do conhecimento geral. O intercâmbio sempre favoreceu o Brasil. Todos os nomes dos artistas brasileiros de importância relevante são sobejamente conhecidos por cá, respeitados e acarinhados. Infelizmente, o contrário não se verifica.
Mas é de mais, que no Brasil, na opinião maioritária, sejamos conhecidos como pessoas burras, preguiçosas, donas de padarias e que gostam de bacalhau e de Fado!
Minha amiga Gabi que me desculpe, pois não a incluo neste lote. Já falamos sobre isso algumas vezes e fico feliz em perceber que as diferenças culturais estão presentes, mas que as semelhanças também são muitas e ainda mais feliz fico em lhe dar a conhecer um país e uma cultura que, para além dos estereótipos mais que ultrapassados, teima em não chegar intacta à maior comunidade do mundo lusófono.
Desmistificando: eu, portuguesa de gema, nunca gostei de bacalhau (pronto, é embirração com o bicho – no Natal lá faço o sacrifício de comer o dito cujo, pago a peso de ouro pela mãe Dina, para evitar ser excomungada logo na Véspera de Natal e ficar arredada da distribuição dos presentes!).
Fado, ouço algum. Amália, amada e venerada pelo mundo, as novas vozes da Mariza, premiada internacionalmente, Ana Moura, recentemente convidada pelos Rolling Stones a gravar algumas faixas para o novo álbum dessa banda e, claro, o inimitável Camané.
Padaria, nunca tive e não consta que algum parente meu tenha tido, apesar de ser viciada em hidratos de carbono e devorar qualquer tipo, desde o pão de mistura até ao “molete” tradicional (para os lisboetas aí vai a tradução: “papo seco”).
Mas a pior parte de engolir é a de “burra” e “preguiçosa”! Não sou o supra sumo da inteligência, mas daí a ser considerada de burra, vai um passo enorme. E preguiçosa até que adoraria ser, se tivesse tempo para isso. Infelizmente estou longe da ociosidade! Mas, mais importante que o meu exemplo, são os inúmeros “crânios” portugueses que dão cartas, actualmente, na investigação, na literatura, na medicina, na robótica, no desporto e em todos os sectores mais variados que consigamos imaginar. Somos um povo que nos podemos orgulhar da nossa história (e não somente do futebol), de sempre querermos chegar mais longe, não nos contentando com a exiguidade territorial do nosso minúsculo país. Talvez por isso, sejamos tão receptivos a outras culturas!

O Ausente

quarta-feira, agosto 23, 2006

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"Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à ideia dos meus
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranquilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar..."

(Vinicius de Moraes - Livro "Antologia Poética" - J.O. Editora - Rio de Janeiro/1987)
(Foto João Lisboa - "Manhã na Foz do Douro")

Quarto Minguante

domingo, agosto 20, 2006

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A luz matinal pesa na madrugada de insónia e arrasta-se lenta pelos objectos. Trémula. A realidade escancarada abruptamente entre lençóis desfeitos é duma crueldade insuportável. Esvai-se em feridas abertas. Tudo à volta empesta sujidade ao momento. Quer sair rapidamente. Deixar de existir se puder ser, evaporar-se. Deixar de sentir. Apagar do pensamento as últimas horas. Ele retarda-a. Pede que fique, “só mais um pouco”. Pensou, talvez fosse possível manter 2 mundos irreconciliáveis e opostos no mesmo prato da balança e encontrar o equilíbrio. Enganou-se. Puro acto de ingenuidade! Egoisticamente quer agarrá-la a si. Não hesita quando lhe diz “Fica”. A protecção do seu abraço deu-lhe asas no desejo e devassou-lhe viciosamente o corpo. O amor partilhado aquietou medos passados e restituiu a tranquilidade das águas que se espelham ao sol. Ao mesmo tempo quer libertar-se, não ter amarras, voar noutros abraços, se enredar por outros beijos, encontrá-la noutros corpos. Não percebeu, ainda, que pediu o impossível. A luz traz já consigo os sons rotineiros da rua. A dor interior torna-se ensurdecedoramente palpável, reflectida num rosto de mulher. É tarde demais. Ninguém sairá incólume desse quarto…

Para ti, Clara

quinta-feira, agosto 17, 2006

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Estou confuso ainda. Clara, peço-te que sejas paciente comigo, aliás como tens sido nestes anos todos de convivência mútua.
Sabes que ando estranho, diferente do habitual: os meus atrasos constantes para jantar e sem justificação plausível; os esquecimentos das datas importantes e de coisas combinadas entre nós; a minha irritabilidade por coisas insignificantes; o meu estado de confusão e impaciência em que mergulho nalguns dias.
Isto vem acontecendo há já algum tempo, mas agora não consigo mais disfarçar tão bem quanto no início.
Lembras-te? Há pouco tempo ficaste tão desesperada comigo que até me acusaste de ter um caso com outra mulher, eu que neste tempo todo de casados só tenho tido olhos para ti!
Nunca te contei a verdade sobre os meus atrasos. Na realidade eram tão ridículos! O facto é que pura e simplesmente não era capaz de me lembrar onde morava. Não raras vezes, conduzia o carro, perdido das horas tardias, sem conseguir encontrar a nossa casa. Graças a Deus, ao fim de várias tentativas consegui sempre regressar. No emprego, também me aconteceu pedir ao Marques que elaborasse vários relatórios e a cara de espanto dele era indisfarçável quando me dizia ter-mos entregues na semana anterior ou uns dias antes. Para contornar a minha crescente falta de memória, anotei em post-its toda a informação que achava importante e colocá-los em sítios de passagem frequente para não me esquecer onde os tinha colado.
Clara, o meu mundo perdeu o norte e isso tornou-me melancólico por vezes, irritadiço noutras. Pensei que poderia resolver tudo tomando umas vitaminas. Ando sempre em stress não é? Atribui a falta de memória ao cansaço. De certeza que estaria a necessitar dum reforço vitamínico, apenas isso. O Dr. Guimarães foi diligentíssimo como sempre. Eu só não estava preparado para as notícias que ele tinha para me dar: Clara, eu sofro de Alzheimer! Tu sabes bem que não tenho medo da morte. Andamos cá todos e há um dia que tem escrito a nossa hora. Embora não goste do sofrimento, estava preparado para que, daqui uns anos, morresse dum cancro qualquer. Mas assusta-me morrer sem consciência, sem as lembranças duma vida inteira (sem memória do 1º dia em que te conheci – como estavas linda, Meu Deus!), sem saber que tivemos 2 filhos maravilhosos, que assistirão dentro em breve à decadência do pai. E destroça-me por dentro saber que o meu amor por ti vai morrer dentro de mim, sem que eu possa fazer nada para inverter esse processo, e que tu sejas obrigada a assistir a tudo isso. Eu que achava a vida tinha sido tão benevolente comigo…! Escrevo-te antes que seja incapaz de o fazer e tu tenhas de cuidar de mim com o desvelo que te caracteriza e como o fizeste com os nossos filhos recém-nascidos. Acima de tudo, quero dizer-te que não mudaria nada na vida, principalmente a que passei contigo. Tem sido um privilégio partilhá-la contigo, Clara, Meu Amor!

Existir ou Não Existir - II Parte

terça-feira, agosto 15, 2006

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(...continuação)
Apenas alguém que não sabe escolher parceiros? Talvez um pouco, tenho-o de confessar (problema recorrente ao longo dos anos – haverá por aí algum curso do estilo: “como escolher o melhor parceiro para si em 10 lições” que eu possa assistir…?), embora esta situação seja hoje em dia vulgaríssima em muitos relacionamentos afectivos e mais que efectivos, de papel passado e tudo, o que aos olhos de algumas pessoas os torna quase como super modelos dos relacionamentos, abençoados pela legalidade duma certidão, mas que concorrem da mesma forma para a manutenção duma paz intranquila e instável por baixo da fina capa superficial. Mas o que nos leva a querer a atenção do outro, sentirmo-nos mimados e exultantes de felicidade por sermos, mesmo que por breves instantes, o centro das suas atenções, sentirmo-nos interlocutores privilegiados dos seus diálogos? Acima da necessidade em termos uma testemunha da nossa vida, precisamos de afectividade, de sermos aceites por quem amamos, de nos sentirmos apoiados quando realmente precisamos, seja pela unha do pé, ou outro motivo mais complexo (que me perdoem os podologistas, não querendo desmerecer os problemas das unhas, é claro). Estamo-nos a borrifar se vão chorar muito no nosso enterro e dizer: “era tão boa pessoa…!” (mesmo que tenhamos sido uns estupores em vida) e façam o relato de todos os acontecimentos importantes da nossa existência! Precisamos, isso sim, que, aqueles que amamos, nos reconheçam em vida e o digam desavergonhadamente e que principalmente o sintam verdadeiramente. Que nos façam sentir que conseguem até viver sem nós, mas que será com toda a certeza uma vida muito mais desinteressante. É isso que nos faz falta! Não dum cronista que anote cronologicamente todas as nossas venturas e desventuras desta breve passagem pelo planeta Terra.

Existir ou Não Existir - I Parte

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Ontem, um amigo meu confidenciava-me que sentia falta dum relacionamento amoroso, quanto mais não fosse para poder partilhar com alguém os pormenores mais insignificantes do dia-a-dia. Comentei com ele, em tom de brincadeira, que por vezes nos apetece ter alguém nem que seja para desabafar: “dói-me a unha do pé!”, o que não deixa de ser verdade. Lembro-me de ter lido um comentário de alguém, que os relacionamentos, principalmente os amorosos, eram a prova real da nossa existência, pois, supostamente, o outro ser era a testemunha perfeita e privilegiada da nossa efémera passagem pela vida terrena. Achei a ideia linda e romântica como sou, sem nunca admiti-lo abertamente, pensei ser daquelas verdades poéticas incontornáveis, que brotam de cérebros iluminados pelo raciocínio clarividente, só acessíveis a poucos. No entanto, reflectindo depois mais a frio dei conta que havia tido relacionamentos afectivos, talvez não muito efectivos, mas afectivos com toda a certeza, pelo menos da minha parte o foram, em que, por razões várias o raio da unha doía-me mesmo e naquele momento, não tinha ninguém a quem me virar para o dizer (e quem fala numa unha, fala num pequeno acidente com o carro, numa chatice com o trabalho, ou algo mais grave como uma trombose, ou qualquer outra situação mais aflitiva). Isso fazia de mim menos “existente”? O facto do parceiro andar mais preocupado com os problemas do escritório, e com o superior hierárquico o ameaçar de despedimento e não ter absoluta pachorra para me dar colo quando eu precisava (porque é disso mesmo que se trata – todos precisamos de “colo” mesmo que não queiramos aceitar essa realidade indesmentível), fazia de mim translúcida a raiar o transparente? Deixava de respirar com algum ataque súbito e fulminante? Não, claro que não. (... continua próximo post)

Lilith - A Lua Negra

segunda-feira, agosto 14, 2006

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De certo haverá quem se questione o porquê do pseudónimo: LILITH. Poderia ter escolhido Maria Joaquina, Carlota Francisca ou até mesmo Cátia Vanessa, ou outro qualquer. Mas, pelo facto deste blog se apelidar “As Fases da Lua”, não poderia ser outro. Passo a explicar: Entre variadíssimas definições, algumas das quais bastante demoníacas, eu prefiro seleccionar a definição astrológica. Lilith ou a Lua Negra, é um ponto hipotético, de área vazia, calculado a partir de determinadas posições da Lua em relação à sua orbita terrestre. Poderia fazer a descrição complexa como se acha esse ponto, no entanto não creio de grande importância para este blog.
Em astrologia, a Lua Negra é representante do lado mais obscuro de nossa natureza, que sabemos existir dentro de nós, contudo preferimos não reconhecê-lo. É o alicerce da nossa personalidade, de verdade chocante que frequentemente negamos e projectamos nos outros. A recusa em ver o que está realmente dentro do nosso íntimo. A manifestação dos nossos medos e inseguranças, que tantas vezes tentamos ignorar. É a verdade mais profunda do que nós somos. A Lua Negra aconselha-nos a explorar o nosso íntimo, numa constante busca da nossa essência.
Tal como a Lua, Lilith aparece associada à maternidade, no entanto, o acto instintivo de amamentar/cuidar dum ser indefeso, é substituído por um sentimento de protecção fortíssimo da sua prole a ponto de matar, se necessário, aqueles que ameacem ou causem dano.
Astrologicamente falando, há um outro lado de Lilith. Carl G Jung descreveu algo a que chamou “anima”. Anima é imagem que um homem tem da mulher ideal, para além de definir, também, o lado feminino da sua personalidade. Para uma mulher é a imagem do homem ideal e do lado masculino da sua personalidade.

As Fases da Lua

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O poder da Lua foi desde sempre um enigma para o ser humano. Associado ao mistério, à sedução, ao feitiço, ao lado oculto da vida humana e essencialmente à mulher, esse poder ainda hoje, apesar dos conhecimentos científicos, continua a exercer um enorme fascínio sobre todos nós. Talvez por parecer possuir personalidade, característica tão própria do ser humano, com as suas fases distintas que tanto influenciam a nossa vida, desde as marés, até ao nascimento dos seres vivos. Tal como a Lua, também eu tenho várias fases (não raramente a minha mãe me dizia: "esta rapariga é de luas!" - ela que me conhece desde sempre, está mais que habilitada para falar com conhecimento de causa) e, por isso mesmo, achei apropriado o nome deste Blog. As fases da Lua é tão simplesmente um pensar alto em forma de escrita, partilhado com os amigos, sobre as fases alegres, tristes, intensas, melancólicas, irónicas, calmas, preocupadas, ou despreocupadas de qualquer ser humano. Serão, acima de tudo, várias viagens aos lados mais expostos ou recônditos da Lua. Para mim, será,
sem dúvida uma viagem fascinante!