Vinicius de Moraes (ainda e sempre...)

domingo, novembro 26, 2006

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Que me perdoe, quem é leitor assíduo deste blog. Eu sei que já era tempo aligeirar a coisa com um post divertido e cheio de humor, dizer umas graçolas pelo meio, ou falar mal de alguém (ou do governo - com tanta gente descontente com as políticas actuais, esta solução resulta sempre). Já recebi algumas reclamações pelo blog estar a ficar muito "deprimente". Mas que se lixe: o Blog é meu! Parafraseando o meu irmão Paulo: "quem não gosta da pinga, muda de tasco!". E assim sendo, transcrevo o poema de Vinicius de Moraes "Soneto de Separação" que é o que me apetece postar neste momento:

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

E por falar em pinga, está uma noite mesmo apropriada para "dar de beber à dor", à alegria, ao amor, ao ódio, à amizade, à inimizade, à fidelidade, à infidelidade, à paz, à guerra, enfim... àquilo que cada um quiser! Quanto a mim, vou brindar aos homens, para que tragam doravante livros de instruções, de preferência com esquemas e figurinhas (não se esqueçam que, embora não sendo loira, estou loira e por isso a coisa tem que ser bem esquematizada e explicada para que não haja enganos de maior). Mas não se preocupem, eu bebo um copito a pensar em vós...! Faço-vos esse favor, não me custa nada! À Vossa...!

Schhhhh...!

terça-feira, novembro 21, 2006

6 Comentários

Schhhhh...! Por favor, não digas nada. Ajuda-me a eternizar este momento, guardá-lo indefinidamente em local hermeticamente seguro e inviolável, mesmo quando a palavra nós já não fizer mais sentido, mesmo quando já só houver vento gélido no lugar do sentimento que um dia pulsou mais que a própria vida. Quero mergulhar, uma vez mais, no teu olhar, esse mar tranquilo que me cobre em suaves vagas de ternura, depois de amainada a fúria embriagante do desejo devorador e prolongar-me nele, esquecendo-me de toda a mágoa que possa alguma vez ter vivido. Deixa sentir-me nos teus braços, de temperatura e medida exactas para acolher o meu corpo languidamente extenuado, e ao mesmo tempo, capazes de abarcar o mundo com a sua inquebrantável vontade de divergir do plano mortal. Que diferença faz que o amanhã seja o planeta mais distante da nossa galáxia quando te tenho inteiro aqui e agora, sem passado nem futuro, apenas mansamente meu, protegido no meu mundo, esquecido da vida que se esgota convulsivamente para lá destas cúmplices paredes, se é para aqui que as nossas forças convergem sempre que materializamos o estado de equilíbrio dentro de nós? Schhhhh…! Não digas nada. Até o velado silêncio nos denuncia!

Contradições

segunda-feira, novembro 06, 2006

7 Comentários

Esta impossível e contraditória vontade de partir sem qualquer memória dos teus gestos e, ao mesmo tempo, de ficar eternamente embrulhada na tranquila aura do teu aquietado corpo corrói-me a boçalidade dos dias dolorosamente lentos. Há muito, deixei de ser água cristalina para me envolver em marés agitadas, prenhas de indecisão, quebradas ao meio nos penhascos “adamastorados” das minhas dúvidas. Não consigo pronunciar na 1ª pessoa do singular a lógica racional do pensamento concreto. Coabitam claustrofobicamente neste mesmo exíguo espaço conturbado, a vivificante fúria de te amar incondicionalmente e o determinado propósito de te ferir fundo com a minha dor, deixando-te órfão de mim, perdido do meu fulgor, procurando erraticamente a minha fugaz sombra no ébano vazio da noite. Definho lentamente à sede da tua boca fugidia (de que forma se sobrevive ao lento agonizar da chama exposta à crueza dos elementos?). A indefinida espera faz ressequir o meu desejo mais espontâneo, o mais verdadeiro, primordial centelha transformadora de toda a essência. Estilhaço-me, assim, em fino pó invisível, lançado desprotegido ao vento estéril do Outono.