Delícias do Futebol

sábado, setembro 30, 2006

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Os meus amigos – homens – que me perdoem. Tenho consciência que vou ferir os seus sentimentos futebolísticos com este “post”, no entanto é como eu encaro esse jogo por eles adorado e idolatrado, que os faz deixar mulher, namorada ou amante à rédea solta (penso que algumas já descortinaram das enormes vantagens que é estar 4 horas, ou mais, sem eles – sim, porque a seguir, vem o ritual de comer com os amigos de beber umas cervejas, de discutir ao ínfimo pormenor as falhas do arbitro, os golos que eram para ser, mas por grande galo não foram, apenas porque não contam os remates por cima da trave como no râguebi, o que é duma grande injustiça, diga-se de passagem!!! - e conseguem entreter-se também elas com outros assuntos tão ou mais interessantes que o futebol…). Bom, a minha cultura futebolística não é das piores, garanto-vos: sei o que é um fora de jogo, uma falta para cartão amarelo ou vermelho, reconheço uma falta para penálti, livre directo, indirecto, etc., reconheço os jogadores (os que vêm nos cromos, os outros, tenho de me penitenciar, por vezes confundo os clubes onde jogam – também com tantas transferências, quem tem cabeça para decorar tanto nome novo, ainda por cima quase todos acabados em “ilson”?) mas, mesmo assim, não consigo vibrar pelo jogo, da mesma forma que por… certos jogadores… que querem que eu faça??? Já fui sócia do F.C.P. o qual continua a ser o meu clube do coração. Aos 20 anos, amigos meus, fervorosos adeptos – diria até, doentes - convenceram-me a inscrever-me e lá recebi o cartão do F.C.P. com a minha foto apensa, certificando, que a partir daquele momento tinha a honra de ser sócia do clube dos “Dragões”! Lá me convenceram também a assistir aos jogos a partir da bancada. E posso-vos garantir que foi uma experiência e tanto…! Havia apenas um pequeníssimo problema quando era marcado um golo: eu estava maravilhada com as pernas dos jogadores (não necessariamente pelas dos que marcavam os tentos!) e quando toda a gente gritava em uníssono “GOOOOLO!!!!!!!” era sempre apanhada desprevenida! E pior ainda, é que não havia “Replay”, para que eu conseguisse finalmente atestar a veracidade da afirmação dita em coro pela assistência! Não via os golos é certo, mas posso confirmar com profundo conhecimento de causa, que melhores pernas que as do Mike Walsh não havia naquele bendito campo! Os meus amigos acharam estranho que eu quisesse acompanhá-los ao futebol sempre que o Porto jogava em casa, pois que nunca conseguia ver os golos, mas deduziram que a “febre da bola” tivesse-me atacado com toda a força e que o meu delírio clubístico era devido aos resultados inesquecíveis que o Porto conseguiu naquelas épocas de tão boas memórias! É claro que à força de tanto ver o jogo, acabei por aprender as suas regras básicas, mas o que era isso diante do vislumbre dum Lima Pereira, encarnação perfeita da espécie masculina? Simplesmente nada! Queria eu lá saber que o Fernando Gomes fosse eleito bota de ouro, que o Frasco fosse um óptimo jogador apesar do seu tamanho, que a equipa tivesse jogadores de fibra como o Jaime Magalhães, e o Zé Beto, que o calcanhar de Madjer valesse puro ouro (golo monumental aquele na final da taça dos campeões europeus) …! É claro que todo esse encanto pelo desporto rei se desmoronou quando esses 2 portentos saíram do Porto (Mike Walsh, primeiro, e depois Lima Pereira, se a memória não me atraiçoa). Mas, mal sabia eu que, alguns anos mais tarde, voltaria a ser acometida pelo “bichinho” do jogo (desta vez, adepta de sofá em frente ao televisor – única maneira de poder ver, finalmente, os golos!) quando me é dado a saber que a baliza do Porto era defendida (e muito bem, diga-se em abono da verdade) por um tal de Vítor Baía (mas alguém consegue não ser fã daquele homem????)! É claro que acho duma tremenda duma injustiça não ter sido convocado pelo Scolari para o Europeu nem para o Mundial. É claríssimo como água que é muito melhor guarda-redes que o Ricardo (e mesmo que não fosse, de certeza que seria eleito o jogador mais lindo desses dois campeonatos, o que nos faria ganhar qualquer coisa mais do que a grande dor de corno com que ficamos, primeiramente com os gregos e este ano com os franceses - eles outra vez, ainda e sempre!). É duma tremenda injustiça não ser agora titular! Helton pode defender muito bem as redes, mas não lança charme para as bancadas na mesma proporção (qualquer mulher no seu perfeito juízo sabe do que falo)! Daí o meu apelo ao treinador Jesualdo Ferreira: para a manutenção da sanidade mental das fãs do F.C.P. (e olhe que são bastantes!), peço-lhe, por favor, deixe o nosso menino jogar!

Encontros Imediatos - Parte I

terça-feira, setembro 19, 2006

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Laura! Laura! Rapariga! Então? Presta atenção ao que ele te diz, menina! Não demora muito e ele vai notar! “Querida, estás diferente. Distante. Que se passa?” Não tarda nada vais ouvir a pergunta qual punhal desembainhado, apontado ao estômago e para quê? Faz um esforço, por amor de Deus, concentra-te. Não deixes que ele perceba, por favor! Para quê deitar tudo a perder agora? Daqui por uns dias tudo volta à normalidade. Isso, recompõe-te. Diz que vais aos lavabos… Inventa qualquer coisa! Sai daí o quanto antes! Ele já notou o teu esgar disfarçado de sorriso e o teu alheamento é mais do que evidente. OK! Ganhaste uns minutos para reorganizar os teus pensamentos e os teus gestos. Que calor faz dentro deste cubículo minúsculo! Pelo menos há água para te refrescares! Isso, assim está melhor… Vais ter de retocar a maquilhagem. A água desfez o risco em fios de preto, pela face abaixo! Orlando ainda não enxergou a dimensão completa da situação, mas não é parvo. Sê esperta miúda, ou num ápice ele somará 2+2! Não deites tudo a perder por causa duma aventura dumas horas! Mas porque raio ele havia de aparecer justo aqui? Com tanto restaurante na cidade, tinha de vir jantar aqui, hoje, a esta hora? E quem é ela? Bonita, sim. Interessante, mas um pouco cabide de vestiário. Muito magra! Namorada? Mulher? Não disse que era casado… Também que importa? Vocês não se vão encontrar mais nenhuma vez, por isso, que diferença faz? Se bem que aqueles beijos e aquele fogo todo, Deus Meu…! Faz-te pensar duas vezes, não é? Laura, acorda mulher! Queres colocar em risco o teu casamento por causa dum homem que mal conheces? Bom, podes não conhecer muita coisa dele, mas aquele desejo em forma de carne, Nª Srª do Carmo!!! Esse, tu já conheces e de que maneira! Humm... é bem notória a diferença entre ti e ela! Escanzelada! Estás com tudo no sítio e com muito mais curvas que aquela lá! Sabes que sim. Mesmo depois destes anos todos de casamento Orlando ainda olha para ti com tesão. Tu sabes disso! Mais uma razão para deixares de pensar nele, porra! Mas porque raio te deixaste envolver? Se ele ligar tu não atendes, estás a ouvir? Nem que ele entupa o telemóvel de sms’s não respondes! Ponto Final! Ouviste bem? O Orlando nunca te iria perdoar! Vai, vai lá ter com o teu marido, já estás aqui, faz tempo! Olha para ti! Estás muito bem assim! Só tens que colocar esse teu sorriso radiante e vais ver que tudo dará certo…!

Hoje Não Estou

terça-feira, setembro 12, 2006

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Hoje não estou. Parti para parte incerta, algures entre a inquieta ânsia e a letárgica tristeza. Estava tão feliz…! Acreditava ter conseguido iludir a existência insípida e castrante, ainda que por breves instantes, mas enganei-me. Era apenas a frágil e sumária paz que antecede as longas tortuosas batalhas. Fio ténue, tão delicado de trégua que teima em não me abandonar à loucura. Quero estar só. Preparar-me para o momento, antever o provir e aguardar a investida final. Esperar… Esperar… Esperar…! Nesse agitado silêncio expectante, antecipando o minuto zero da contagem decrescente. Desejei tanto que não fosse (mais uma vez!) assim. Não estou para ti. Deixei que o tempo, memórias apressadas pontilhadas de fugaz felicidade, se escapasse entre os dedos incrédulos, achando que poderia reconstruir uma e outra vez o momento exacto, perfeito. Muita ingenuidade minha! Uma vez guerreira, guerreira toda a vida, mesmo que o corpo dorido implore a paz, mesmo que o espírito se exorcize pela paz. Porque assim será! Sempre!

Adolescência

sábado, setembro 09, 2006

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Poucas memórias ficaram dele, pois nem mesmo me lembro da sua aparência ou do seu nome. Recordo-me somente que eu era mais velha que ele talvez uns 2-3 anos. Mas foi com ele que desvirginei meus lábios em beijos loucos de carne e saliva. Finalmente, alguém me desejou com tesão desesperado e urgente, não dando segundos pensamentos ao que estava a ser vivenciado poderia ou não ser traduzido em poesia. É claro que o meu adolescente projecto a homem, enevoado pelo torpor sexual, nunca tinha ouvido falar da poesia erótica e nem eu me atreveria a quebrar o momento com alguma dissertação sobre o assunto, embora tenha uma vaga ideia de lhe ter cantado “Strangers in the Night” de Frank Sinatra, o que deixou o rapaz bastante confuso e achando que eu não regulava bem.
De volta ao Porto, as novas experimentadas sensações não saíam do meu pensamento e o meu lado romântico de heroína de romance de cordel soltava-se a cada passo, fantasiando memórias futuras com o meu excitável adolescente que nunca ganharam estrutura nem pés para andar.
Voltei a estar com ele umas semanas depois, mas o encanto tinha-se quebrado. Quando me beijava não conseguia sentir o fogo e vontade de o devorar que havia sentido da 1ª vez. Os beijos ainda que gulosos não traziam a paixão com eles. E o adolescente, que aprendia rápida e vorazmente as lições de Braille, queria mais do que troca de fluidos e de línguas entre as nossas bocas.
Quando senti uma mão desajeitadamente frenética procurando algo entre as minhas coxas pensei, apesar dos amassos e beijos despertarem-me calores apenas sonhados vagamente, aquele jovem tinha muito caminho para percorrer até saber tocar no prazer duma mulher. Mas porquê criticá-lo, se há homens adultos que até hoje não o sabem, nunca o souberam e têm imensa raiva de quem sabe? Bom, a exploração às partes íntimas quedou-se por ali para grande desagrado dele, pois já teria, paralelamente aos meus sonhos, idealizado outros sonhos mais palpáveis.
Contudo, a minha veia romântica é viciada até hoje e mesmo nesses anos iniciáticos já fazia das suas. Assim, mesmo tendo achado que o meu jovem assanhado não seria bem aquilo que eu necessitava, decidi enquadrá-lo no meu modelo de “amor louco, eu morro se não te vejo, se não te sinto aqui e agora”. Desnecessário será dizer que o rapaz era muito mais esperto que eu, no que toca a perceber o que são vibrações físicas entre dois corpos de sexos opostos e rapidamente tinha encontrado substituta mais colaborante para prosseguir os seus estudos profundos sobre o corpo feminino. Chorei algumas lágrimas, é certo, mas se for honesta, não posso afirmar que fiquei inconsolável durante muito tempo.

A Casa

quarta-feira, setembro 06, 2006

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Desci a rua, encadeada pelo sol impiedoso de Verão e pela ausência de referências que preenchiam a minha memória. Seria aqui? Estaria no sítio certo? Faltavam-me o riso e as corridas em tropel, ladeira abaixo, das crianças. As conversas das vizinhas, que cruzavam transversalmente o empedrado da calçada, de janela a janela. Os latidos dos cães que se juntavam à excitação ruidosa da pequenada e pulavam em seu redor.
Agora, havia apenas o barulho distanciado do matraquear mecânico e abafado das locomotivas que passavam bem por cima da rua, e se esticavam, qual serpente ao sol, com as suas carruagens, sobre a ponte com nome de santo popular. Sentei-me no muro baixo de pedra, que provavelmente havia conseguido, anos antes, camuflar-se, ludibriando os buldozers. À minha frente, um espaço vasto, esvaído de recordações, alicerçado, lá mais ao fundo, aos pilares da ponte. Com uma certa agilidade, consegui esboçar mentalmente cada ínfimo pormenor da casa, mas não estava certa da sua localização exacta. A sala de entrada, lugar polivalente, onde funcionava, em simultâneo, o cabeleireiro do bairro, onde a minha tia Milú penteava em “mises” e “permanentes” rebuscadas os achaques das vizinhas, a sala de brincadeiras e de leitura de todos nós (garotos das cercanias incluídos) e local de passagem de vários tufões infantis que diariamente assolavam a porta e se deslocavam vertiginosamente até à cozinha em constantes idas e vindas, capazes de exasperar o mais pacífico dos adultos. O quarto dos meus avós, onde eu, o meu irmão e os meus primos descobrimos, numa tarde de sesta compulsiva, a abertura dissimulada do colchão, por onde o esventramos até à morte da palha e a atiramos uns aos outros em grande algazarra, quais comediantes enlouquecidos. A sala de jantar, passagem obrigatória de todo clã familiar em Natais, Passagens de Ano e Aniversários. A cave, lugar de fascínio, onde o meu avô tentava esconder da nossa estouvada curiosidade, a tipografia e onde vários primos se tisnavam, de quando em vez, com tinta de impressão, a qual era literalmente arrancada da pele em banhos purificantes de água raz.
Mas, em que espaço a minha avó chamava por nós do cimo das escadas traseiras? “… Nando, São, Zé, Nocas, Orlando…!” Era daqui que nós partíamos pelo carreiro estreito, que serpenteava por entre as traseiras das casas, em correrias de índios apaches, com lama na cara, em jeito de pintura de guerra, ao seu chamamento? E os degraus, onde impacientemente nos sentávamos em “escadinha” à espera da sopa que a minha tia Lola distribuía equitativamente e religiosamente por todos, colher a colher, qual hóstia partilhada em comunhão, onde ficavam? Algures por aqui, mas ao certo, onde?
Foi por aqui, nestes terrenos à minha frente, que eu senti pela primeira vez o cheiro da terra recentemente molhada pela chuva – até hoje, é esse odor intenso que me lembro quando penso na infância. Era por ali, mais lá ao longe, talvez, que o meu avô nos dava lições empíricas de zoologia e botânica e teorias igualitárias sobre a vida humana, as quais bebíamos de olhares vivos, num misto de enorme admiração, calcorreando os prados em largos passeios, carregados de flores silvestres para oferecer às mães no regresso.
Quase todos que aqui moravam foram forçados a mudar-se, em nome do progresso e da modernidade dos caminhos-de-ferro portugueses, para blocos de apartamentos camarários que pomposamente classificaram de “conjunto habitacional”. Os meus avós sobreviveram à mudança, mas devido à idade avançada, parte da sua vivacidade ficou desmembrada tal como a casa que deixaram para trás. O sorriso aberto da minha avó e a vontade de mudar o mundo do meu avô implodiram com o passar do tempo e ambos foram desabando lentamente.
As melhores recordações da minha infância estão soterradas ali, algures, nesse espaço vazio…

Histórias de Portugal

domingo, setembro 03, 2006

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Este fim de semana decidi-me a fazer a tão já aguardada arrumação à estante, onde livros, papéis, fotocópias, fotos e algumas recordações se amontoavam em equilíbrio precário, prontos a desabar ao menor espirro. Tarefa nada morosa porque apenas estão coisas que comprei e acumulei depois da mudança para esta casa. Os restantes, principalmente livros, ainda estão ordenadamente empacotados na cave há 9 anos, à espera que a dona os acorde do sono eterno (eu sei que esta revelação não abona nada em meu favor, mas...)!
Bom, isto a propósito que encontrei 1 livro cujo título é: "Nova e Inédita História de Portugal em Disparates II" compilado por Luís de Mascarenhas Gaivão, das Publicações Europa-América. Lembro-me de o ter lido e chorado a rir. Trata-se dum livro construído com respostas erradas dos alunos desse professor. Numa pausa da arrumação, abri-o ao acaso e voltei a desfazer-me em lágrimas de tanto rir. Já que amanhã é dia de recomeço de trabalho para muitos de nós, aqui fica um pequeno extracto de humor, para melhorar o astral:

"Reflectindo as mais diversas motivações afectivas foi elaborada uma questão relativa ao modo como cada um via e o que sentia a respeito do funcionamento da Monarquia Hereditária e se gostaria, por acaso, de viver nesse sistema político.
Eis os pensamentos mais sintomáticos e reveladores dos estados de espírito, começando pelas respostas negativas:
- "Não gostava de viver nessa época, porque iria ser povo e não queria morrer de peste, e ainda por cima não podia ir trabalhar para a terra porque fico logo com bolhas nas mãos."
...
- "Não, porque se eu gostasse de ser rei, tinha de aguentá-lo até morrer, e hoje já não é assim, já é elegido pelo povo de cinco em cinco anos."
- Não, porque não gostava de ser filha dum rei e a riqueza não é tudo o que há na vida; também há saúde e há que pensar nela primeiro."
- "A Monarquia Hereditária é quando a coroa vai de pais para filhos. Não gostava de viver nessa época porque, depois, a coroa ia para mim".
...
- "Não, porque podiam matar-me, ou, se não, mandarem matar-me."
Mas as opiniões não são, apenas negativas, pois há quem gostasse... de viver nesse sistema medieval:
- "Gostava de viver nessa época, só se fosse rainha ou nobre (para ter direitos)."
- "Eu gostava, porque viveria num país onde o rei, quando morresse o filho, subia ao trono."
- "Sim, gostaria, porque o trono passava do meu pai para mim, o filho."
- "Gostava, porque a Monarquia Hereditária é passa de pais para filhos dentro do mesmo sangue, embora eu tivesse de aguentar certas coisas.""

Que o trabalho vos seja leve...