AS FASES DA LUA - DOIS ANOS DEPOIS...

quarta-feira, agosto 13, 2008

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Hoje é dia de comemoração.
O blogue “As Fases da Lua” foi criado há precisamente 2 anos.
Em vez de dissertar sobre as razões que me levaram a criá-lo, este post é uma homenagem aos leitores deste blogue. Aos que são duma assiduidade tão exacta quanto um relógio suíço. Aos que o lêem de quando em vez. Aos que já leram e deixaram de o fazer. Aos que chegaram recentemente. Aos que ainda não leram e que um dia o virão a ler. Aos interventivos e opinativos com os seus comentários. Aos que o lêem em recato e não expressam o que sentem. Aos que concordam. Aos que discordam. Aos que gostam do que escrevo. Aos que odeiam o que escrevo. A todos, sem excepção.
Mesmo sem leitores haveria sempre “As Fases da Lua”, porque a escrita é um silencioso e doloroso parto solitário com frequente recurso a fórceps. Nessa violenta ensanguentada expulsão, vem sempre um pouco da minha essência por arrasto. Frequentemente em situações e personagens imaginários mais ou menos controversos, por vezes assumidamente em carne e osso. Mas nenhum destes posts estaria vivo se não tivesse sido lido por vós. Foram vocês que, com a vossa leitura, depois de nascimentos muitas vezes atribulados, lhes aplicaram as técnicas de suporte de vida neonatal. Graças aos leitores eles sobrevivem. E continuarão a viver, enquanto houver alguém que faça o favor de os ler…

Porque estou numa fase revivalista, ofereço-vos esta música dos The The - faz-me lembrar umas férias em que acampei nas Caldas das Taipas com dois amigos. Teria eu uns 16-17 anos. Passávamos o tempo todo a ouvir este grupo num volume que, digamos, dava para todo o parque ouvir. Porque na altura uma jovem raramente acampava sozinha com 2 rapazes, e apesar de termos levado duas tendas, eles os dois dormirem juntos e eu ficar sozinha numa delas, todos no parque achavam que eu era sueca e andava enrolada com os dois. Todos sabem a importância das suecas no imaginário libidinoso do homem mediterrânico, mais em concreto no do homem português. Se a isso juntarmos a interioridade que se fazia sentir nas Caldas das Taipas há quase 30 anos atrás, temos o mais completo guião dum filme porno bem hardcore prontinho a ser servido. Portanto, podem já imaginar o que todo o parque imaginava que nós os três andaríamos a fazer pela calada da noite ou do dia, tanto faz, que para as suecas, como toda a gente sabe, é a toda a hora e a todo o instante e com aquele que estiver mais à mão, ou ao pé, tanto dá - e no meu caso, como boa sueca que se preze, até podia reveza-los... Após estes anos todos, só ainda não consegui perceber muito bem como puderam pensar que seria sueca. Deveria ser do meu ar acentuadamente nórdico – uma brasa de 1,60 m de altura, cabelo castanho avelã e olhos castanhos escuros. Eles tinham razão, qualquer um me confundiria com esses “aviões” nórdicos loiros, altos e curvilíneos… no mínimo… digo eu… Ou então seria pelos The The. Nunca ouvidos por aquelas paragens muito menos em tão altíssimos decibéis.

The The
Uncertain Smile

I'm So Sorry...

domingo, agosto 10, 2008

3 Comentários

Fixo os seus tímidos olhos travessos, tão escuros como dois imensos buracos negros, quase infantis na inocência do brilho emocionado que irradiam. Sensibiliza-me que se comova por mim, espanta-me até, por não ter previsto que o pudesse tocar dessa forma tão avassaladora, tão despojada. Eu, que nunca me achei capaz de nada de muito relevante, muito menos ser alma inspiradora de tão grande sentimento, incapaz de ficar contido em exíguo espaço corporal e que transborda o seu recipiente humano numa torrente de reveladoras lágrimas silenciosas. Culpabilizo-me por ter subestimado o seu enorme afecto. Culpabilizo-me por não corresponder, nem sequer no mais levíssimo grau de emoção. Culpabilizo-me de o ver assim exposto numa nudez sentimental embaraçosa. Quero dizer-lhe que esconda a alma, resguarde-a de mim, feche-a em local seguro e inviolável, porque não sou de confiança, não sei ter à minha guarda tamanho tesouro sem lhe causar danos irreparáveis. Sou a maior contra-indicação para o seu estado. O pior dos efeitos secundários de consequências imprevisíveis. Mas não sou capaz. Não me iria acreditar. Não me vê como sou. Como estou agora, sem nada de bom para lhe oferecer. Apesar de me sensibilizar toda essa comoção não me toca. Não me prende. Para lá da culpa, não me diz nada. Uma gélida assintomática culpa. Reconheço que ele merece muito mais do que esta glacial sensibilidade racional. Pelo menos, uma outra torrente incontida, em tudo idêntica à sua. Mas nada. Nem o mais pequeno sopro de vida deste lado. Lamento tanto, mas não sinto nada.

The Smiths
I'm So Sorry