Reposição da Verdade - Até Amanhã

domingo, dezembro 30, 2007

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Facultaram-me anonimamente acesso ao endereço dum livro de visitas onde o meu post ATÉ AMANHÃ tinha sido descaradamente reproduzido sem permissão por uma "floraapaixonada", a qual, por omissão, também se havia apropriado da sua autoria.

Passo a transcrever a mensagem que deixei no livro de visitas da dita senhora:


Minha Cara floraapaixonada,

Devo dizer que nada na vida nos acontece por acaso e o facto de me terem facultado a página do netlog do seu amigo AM220606 não foi, com toda a certeza, uma mera coincidência!
Constatei que é fã do meu post "Até Amanhã", o qual publiquei em 28 de Agosto de 2006 no meu blog http://asfasesdalua-lilith.blogspot.com.
No entanto, Cara floraapaixonada, esse post tem, como qualquer outra criação literária, direitos de autor, os quais a Sra. parece ter esquecido (propositadamente ou não) quando "dedicou" o MEU TEXTO ao seu amigo acima indicado, não fazendo qualquer menção à sua real e legítima autora, nem à página da internet de onde este foi ROUBADO.
Caso não esteja informada sobre o acto ílicito e criminal que cometeu, por favor informe-se. Para lhe facilitar a vida, até lhe posso indicar o site da "Wikipédia" onde, numa forma sucinta, poderá obter informação sobre o assunto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Copyrights. É que, Cara floraapaixonada, a internet não serve tão somente para fazermos "copy / paste" de textos que nos são alheios, serve também para estarmos informados e aprendermos qualquer coisa de útil, nomeadamente apreciar e respeitar a criatividade artística dos outros!
No referido artigo vai poder ler o seguinte:
"Contrafacção é a cópia não autorizada de uma obra, total ou parcial. Toda a reprodução é uma cópia, e cópia sem autorização do titular dos direitos autorais e ou detentor dos direitos de reprodução ou fora das estipulações legais constitui contrafacção, um acto ilícito civil e criminal.
Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fluir e dispor da obra literária, artística ou científica, dependendo de autorização prévia e expressa do mesmo, para que a obra seja utilizada, por quaisquer modalidades, dentre elas a reprodução parcial ou integral.
(...)
Em Portugal, essa matéria é regulada pelo Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos e pelo Decretos-Lei seguintes desde que não contrariem o disposto neste Código permanecem em vigor tais como: Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de Março, com as alterações feitas pela Lei n.º 45/85, de 17 de Setembro, pela Lei n.º 114/91, de 3 de Setembro, pelo Decreto-Lei n.º 332/97, de 27 de Novembro, e pelo Decreto-Lei n.º 334/97, de 27 de Novembro."
Como pode verificar, ao citar parte do artigo publicado na Wikipédia, coloquei o conteúdo entre aspas e disponibilizei informação de onde este foi retirado. Assim, estou a respeitar o trabalho e os conhecimentos de quem colocou essa informação à disposição de todos que navegam na internet, sem me apropriar indevidamente da sua autoria!
Assim, como forma de repor a legalidade dos factos, exijo que proceda uma das seguintes formas:
1. ou faz uma rectificação à sua mensagem e menciona o pseudónimo da autora e a página da internet de onde foi retirado o MEU TEXTO "Até Amanhã" no livro de visitas do seu amigo AM220606;
2. ou pura e simplesmente retira o MEU TEXTO do livro de visitas do seu amigo.
Caso assim não proceda, ver-me-ei forçada a apresentar queixa-crime contra si nas instâncias competentes.
Da próxima vez que se sentir tentada a copiar algo que não é seu, experimente em 1º lugar pedir autorização ao respectivo autor. Não custa nada e faz parte das regras da boa educação, além de evitar as consequentes complicações legais / jurídicas que possam advir desse incumprimento.
Atentamente,

Lilith

Este Amor

quarta-feira, dezembro 26, 2007

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Este Amor
(... my precious one)
Foi suave poema
Sussurrado ao ouvido,
Sustenido no tempo
Em doce Vibrato.

Este Amor
(... my vicious one)
Foi força indomada,
Fecundada paixão.
A tua seiva
No meu corpo

Este Amor
(... my treasured one)
Foi apaziguado sabor
Da batalha ganha,
Na morosa guerra
Há muito perdida.

Este Amor
(... my strongest one)
Foi pura essência
Da minha nua Alma
Presa à tua

Este Amor
(... to Thee I surrender)
Foi todo teu...

O Estado da Nação

sábado, dezembro 01, 2007

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Vivem há mais de 25 anos porta com porta com os meus pais. Óptimos vizinhos, excelentes pais da filha única, a qual vimos crescer desde tenra idade. Sacrificaram-se para que pudesse ter um curso superior e chegar mais longe do que eles. Pessoas honestas, trabalhadoras, sempre prontas a ajudar em tudo que seja necessário e, acima de tudo, compenetradas na sua vida e pouco dadas a mexericos. Ela, saía de casa todos os dias pelas 7,30 h da manhã para entrar na fábrica de confecções às 8 h, voltando já tarde. Ele, trabalhando por turnos, muitas das vezes regressava a casa pouco depois de ela ter saído. Está desempregado há já 2 anos. Ela ficou sem trabalho o mês passado. Estão ambos na casa dos 50 e poucos. Atarantados pela incerteza do dia seguinte, não assimilaram ainda como tamanha injustiça lhes coube em sorte. Ela não consegue esconder os olhos rasos de água nem o terror interno que lhe preenche o olhar. Nunca se viu em tal situação. Sabe que dificilmente conseguirá um novo emprego. Ele, porque é homem, e aos homens não é permitido chorar quando tudo desaba à frente deles, desvia os olhos para o infinito e morde o filtro do cigarro. Dói-me não poder fazer nada por eles, a não ser rever-me no seu desespero. Perder o trabalho, o sustento de uma família, é perder a dignidade. É perder as rédeas da vida. É depender de estranhos. E desenganem-se aqueles que pensam isso apenas acontece às pessoas com baixos níveis de instrução. Tenho amigos com cursos superiores, mestrados, doutoramentos que trabalham em empregos precários cujas remunerações pouco maiores são que o ordenado mínimo nacional e que preferem isso a sentir que perderam a dignidade. Ou aqueles que nem isso conseguem, porque “possuem qualificações a mais para o lugar” (???). Ou, pior ainda, muito frequente nesta sociedade actual de “iluminados”, aqueles que já não têm 35 anos e por isso “passaram o prazo de validade” como os iogurtes ou outro mantimento perecível. Imensos empresários de pequenas empresas, nos quais eu me incluo, que caminham permanentemente na estreita linha entre a sobrevivência do negócio e o abismo da falência, obrigando-os a medidas autofágicas como última solução de recurso, mas que mesmo assim não dão garantias de rigorosamente nada. Por isso, só me dá vontade de rir de raiva quando o governo nos quer fazer crer que estamos a sair da crise. Dá-me vontade de rir de raiva, quando alguém com responsabilidades governativas afirma que o sector empresarial do norte tem de reagir e não esperar que as coisas lhes caiam no colo, como se alguma vez o empresário nortenho não soubesse que apenas pode contar com ele para o que der e vier, porque a capital e o poder governativo deste país sempre sofreram de miopia extrema e não conseguem ver mais além do que o seu próprio umbigo. Dá-me vontade de rir de raiva escutar isso de alguém que vive entre os gabinetes do poder político muitas das vezes sem qualquer tipo de experiência empresarial ou de trabalho efectivo em empresas reais com problemas reais. Dá-me vontade de rir de raiva, quando por um simples movimento de secretaria se transforma alguém com a 4ª classe num adulto com o 12º ano, sem que para isso tenha de aprender algo de relevante que lhe transmita reais conhecimentos a esse nível, apenas porque ao governo interessa camuflar as estatísticas que colocam este país com um índice de iliteracia elevadíssimo e com um dos mais baixos níveis de escolaridade, esquecendo que isso só pode ser combatido com reais conhecimentos e não com emissão de diplomas. Dá-me vontade de rir de raiva quando ouço pretensos “yuppies” (o que eu apelido de “yuppies” à portuguesa) falar em downsizing e key account e marketing development e outras pérolas do género (quem puder, leia a coluna de opinião do jornalista Joel Neto na revista NS da semana passada) como se as palavras ditas em inglês americanizado lhes conferisse um estatuto acima dos “comuns e reles mortais”. Dá-me vontade rir de raiva quando alguém tem a ideia peregrina de escrever que o salário médio dos portugueses ronda os 840,00 € (a Yasmeen dedica um post a este tema, o qual aconselho vivamente a ler). Neste caso dá vontade de perguntar se há outro Portugal que eu não conheço, mas para o qual pretendo mudar-me já amanhã (é só o tempinho de fazer as malinhas e partir...), ou se a pessoa que escreveu esta pérola (supostamente) jornalística conhece o país em que supostamente habita, onde há locais que não existe electricidade, nem água canalizada, nem rede de esgotos, nem estradas dignas desse nome, onde crianças têm de andar horas de camioneta para continuar a estudar, onde mães põem em risco a sua vida e a dos seus filhos dando à luz em ambulâncias estacionadas na berma da estrada, onde pessoas com doenças em fase terminal são obrigadas a trabalhar porque o Estado não lhes reconhece a dignidade de morrerem em paz, onde as pessoas caminham na rua de semblantes carregados porque ninguém hoje em dia tem motivos para sorrir, onde o salário real da maioria anda muitíssimo abaixo dos tais € 840,00! Muito honestamente, dói-me ser portuguesa neste Portugal tão tacanho!

Madrugada

segunda-feira, novembro 19, 2007

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É tarde. Sem sono. Sem vontade nem motivo em voltar para casa. Vagueio sem plano traçado pela cidade, de ruas despidas de movimento, despreocupadamente aninhada no seu sono profundo, agitado esporadicamente pelo rodopiar rebelde das folhas outonais presas a invisíveis correntes de vento em redor dos encarquilhados troncos das árvores. Escassas sombras difusas, assemelhadas vagamente a trôpegas formas humanas, surgem deambulando erraticamente pela noite, impacientemente defecadas pelos seguranças à porta dos últimos bares ainda estoicamente abertos mas desesperando por encerrar, onde acabaram de emborcar desalmadamente todo e qualquer resquício de gota de álcool como se a manhã seguinte não despontasse daqui a breves instantes. Cruzo-me de carro a baixa velocidade com essas pequenas amálgamas que escancaram a gargalhada e as palavras em ébrios sons estridentes, sobrepondo-se por segundos à serena melodia debitada pela estação de rádio FM para ouvintes insonolentes. Mais à frente, uns 500 metros, uma mulher de maquilhagem sombria, já desbotada pelo fino orvalho, ostenta um ar seraficamente teatral de Marilyn Manson. As suas formas curvilíneas açaimadas numas calças negras de Lycra e os peitos profusos prontos a saltar do decote em V acentuado esperam a paragem do último cliente noctívago da madrugada. Tenta enganar o frio e a solidão marcando o passo na calçada ao som ecoado dos altíssimos tacões agulha. Alguém estaciona à sua frente. Dois homens bastante jovens dentro de um topo de gama alta cilindrada. A mulher, inclinada junto à janela da porta da frente notifica o preço do seu corpo escravizado dentro de roupas provocantes como se vendesse castanhas na beira da estrada. A transacção presumivelmente concretiza-se. A porta traseira abre-se e a mulher reclina-se no assento. O carro arranca imediatamente a seguir em grande velocidade. Conduzo sem destino. Alheado do apelo das montras profusamente iluminadas que desfilam lateralmente à estrada, derramando no passeio vazio todo o seu glamour cintilante. Sem vontade de regressar ao que me espera. Uma casa vazia. Ainda mais despida do que esta avenida mergulhada em silêncio. Uma vida vazia. Continuo sem sono. A anarquia do meu percurso conduz-me inconscientemente a caminhos que sei de cor. Vezes sem conta percorridos. Levam-me a ti. À tua porta. Imagino-te tranquilamente dormindo. Serena. Como quando dormias enroscada em mim e eu embalado no ameno odor a perfume da tua nuca. Estaciono de frente à janela do teu quarto. As persianas corridas do último andar. Estás tão perto de mim e tão longe. Acompanhada? Muito provavelmente. Incomoda-me. Há dias vi-te com ele. Coincidência das coincidências. Raramente vou ao cinema e muito menos àquela hora. Apeteceu-me. Sentaste-te 5 filas à frente, ligeiramente oblíqua à posição da minha cadeira. Não me viste. Consegui perceber que encostaste a cabeça na dele enquanto conversavam baixinho. Ele abraçou-te carinhosamente. Beijou-te levemente nos lábios. Notei cumplicidade no olhar. As mãos entrelaçadas enquanto o filme passava no ecrã. E um frio no estômago difícill de controlar. Incomoda-me. A rádio solidariza-se com o meu desconforto ao som de Phil Collins... How can you just walk away from me, when all I can do is watch you leave, cos we’ve shared the laughter and the pain and even shared the tears, you’re the only one who really knew me at all... Não sei explicar-te porque fui incapaz de te amar da forma que tu querias. Mas sei que te amei. Que te amo. Na minha maneira retorcida de ser. Entendo, foi pouco para ti... I wish I could just make you turn around, turn around and see me cry, there’s so much I need to say to you, so many reasons why, you’re the only one who really Knew me at all... Incomoda-me. Imaginar-te abraçada a ele na tua cama. Ele ocupando o lugar que foi meu. Recebendo os teus beijos. O teu calor. Um frio no estômago difícil de controlar... Take a good look at me now, cos I’ll still be standing here, and you coming back to me is against all odds, it’s the chance I’ve gotta take...

What a Wonderful World - Feliz Aniversário!

quinta-feira, novembro 01, 2007

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Hoje é dia de aniversário. Minha avó paterna faria hoje anos. Matriarca na verdadeira acepção da palavra. Adorava sentir a sua extensa prole debaixo das suas asas protectoras. Por ela, a família agregava-se nas datas mais importantes. Nessas alturas sentia-se verdadeiramente feliz. Era o elemento aglutinador de toda a descendência (muitos filhos, muitos mais netos e alguns bisnetos). Tinha um sentido de humor refinadíssimo! Adorava contar anedotas levemente picantes, implicitamente imbuídas de duplos sentidos, que lhe preenchiam o olhar duma inocente malícia quando desvendava o final. A doença terminal, já em fase avançada, tirou-lhe a vontade de as contar e implicitamente a expressão de menina travessa que lhe iluminava a face sempre que seu olhar sorria. Mais do que o medo de morrer, creio que a minha avó odiava a ideia de, após a sua morte, não ter mais os seus filhos, netos e bisnetos junto dela. Isso, entristeceu os últimos anos da sua vida, quando tomou consciência que a doença lhe iria levar a melhor. Hoje, caso ainda vivesse, estaríamos todos em seu redor em grande algazarra festiva. E ela, do canto do seu sofá observando-nos com ar de felicidade em ter todos os seus meninos à sua volta.

Hoje é duplamente dia de aniversário. Alguém que amei intensamente faz hoje anos. Meu primeiro verdadeiro amor. Com ele vivi alguns dos melhores momentos da minha vida e também alguns dos piores. Foi sempre um relacionamento de extremos. Oito ou Oitenta. Ou a subida aos céus ou a descida aos infernos. Psicologicamente perturbador quer nos bons e nos maus momentos. Amei-o muito, mesmo depois de termos acabado. Amei-o mesmo quando o escorracei definitivamente da minha vida (única hipótese de me salvar da espiral de autodestruição que arrastava consigo, não poupando ninguém, muito menos aqueles que ele amava). Amei-o enquanto vivia outros relacionamentos afectivos. Amei-o em corpos de outros. Hoje, tenho por ele um enorme carinho. Alguns anos atrás consegui fazer, se não a paz completa, pelo menos as tréguas com esse passado afectivo tão tumultuoso. Hoje, como sempre, desejo-lhe o melhor, esteja onde estiver. Num aniversário, ofereci-lhe um vinil de Louis Armstrong “SATCHMO”. “What a Wonderful World” faz parte desse disco. Feliz Aniversário!

Mais...

quarta-feira, outubro 24, 2007

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O olhar mal disfarça a vontade. Ilumina-se de escuro brilho quente, suave veludo. Perceptível no ar. Palpável à superfície da pele entorpecida pelo desejo. Nenhum ainda o confessou em sussurradas palavras, mas sabem-no já intuitivamente. Sentem-no em cada célula. Em cada ínfima partícula. Tão certo como haver marés nos oceanos. Tão certo como a energia sexual que os atrai como um poderoso íman. Aspiram compassadamente o seu intenso almiscarado odor em cada suspirada lufada de ar. Poderiam até divagar o tempo que lhes resta em antagónicas palavras desprendidas. Soltas no espaço sem nexo. Presa a cada, uma única mensagem subliminar descodificada em Morse encheria o espaço em redor de vários beeps num significado absoluto e inquestionável: EU DESEJO-TE (beep beep beep beeeeep *espaço* beeeeep beep beep beep beep beep beep beep beep beeeeep beeeeep beeeeep beeeeep beeeeep beeeeep beeeeep beep *espaço*). Retardam o simples toque (uma mão que repousa no ombro ou que se apoia na longitude do braço) num acto puro de masoquismo sádico, gerador exponencial da tensão física de ambos em velocidade uniformemente acelerada. Ambicionam à exaustão o beijo prolongado, ardente, canibal. Depositário de cumplicidades, murmúrios e volúpia. Explorador de carne e tesão. Antecipam os abraços de ávidas mãos sedentas, devorando em ânsia cada polegada de pele. Sôfrega em ser descravizada da incontrolável torrente subterrânea que inebria os sentidos, num compulsivo enlace dos corpos evaporados em fogo vulcânico. Incansável busca do prazer no prazer do outro. Saciando-se somente no prazer do outro. Da entrega do outro. Entregando-se ao outro. A redenção total na rendição. Viciante. Pleno. Grandioso. Vontade de mais, de muito mais. Pede-se mais. Suplica-se por mais. Dá-se mais. E mais. E mais. Tem-se mais. E mais. E mais. E mais. E mais. E mais. E…

Saudades de Ti

sábado, setembro 29, 2007

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Sabes amor, hoje o meu peito parece querer estalar de tanta saudade. Nem sei bem porquê. O dia começou igual a tantos outros iniciados no lusco-fusco das macilentas alvoradas chuvosas de Inverno. Levantei-me devagar para evitar desconjuntar as articulações dos ossos, tentando ludibriar a dor que se apodera de cada ínfima parte do meu corpo sempre que faço o mínimo gesto. Tu sabes, este tempo é uma desgraça para o meu reumático. Dei de comer ao Óscar que já miava desde que a luz envergonhada havia despontado por entre as frinchas desdentadas da persiana, aquela que prometeste vezes sem conta arranjar e nunca arrumaste coragem para te encavalitares no cimo do banco em equilíbrio de fazer inveja aos trapezistas circenses em fim de carreira. Apesar de protestar contigo também vezes sem conta, nunca fiz muita força para que a consertasses. Tinha medo. Tu sabes. Mas como te estava a dizer, nada de especial o começo deste dia. Igual a tantas resfriadas manhãs, em que a enregelada água protesta em gritos fantasmagóricos do aperto causado pelos canos ferrugentos. Os mesmos ruídos de gargarejos vindos do Sr. Fonseca do andar de cima, sempre à mesma hora, dias e dias seguidos, anos a fio. Hoje não foi excepção. A correria dos pequenos da Dª Carmo, desbravando em abalos sísmicos os degraus das escadas, em direcção à escola. Estão tão crescidos. Lembras-te, costumavam tocar à porta e esconder-se e tu simulavas uma cara feia e zangada e troavas pelo patamar que ias chamar a polícia se voltassem a repetir a brincadeira. Nunca os conseguiste convencer. Apareciam à tua frente segundos depois com a maior cara de safardolas que se possa imaginar, pedinchando guloseimas que sabiam de antemão teres nos pejados bolsos do teu casaco de malha. O Óscar ensarilhou-se nas minhas pernas de cauda levantada depois de saciado o seu apetite de pseudo felino selvagem, enquanto tomava o meu café com leite. Sabes bem amor, tu mimaste-o como ninguém. Aquele não caçaria um rato morto nem que a sua sobrevivência dependesse disso. Eu bem te chamei a atenção. Não se pode tratar os animais como pessoas. Ficam mal habituados. Mas não me ligaste nenhuma. Guardavas sempre um petisco qualquer do almoço ou do jantar para lhe dar a seguir, sempre que eu virava costas. Eu fingia não ver. E tu fingias não saber que eu via. Ele sempre gostou mais de ti. Pudera. Mimava-lo como uma criança. Mesmo quando entrou aqui pela 1ª vez vindo da rua, dentro do teu casaco, encostado ao conforto do teu peito. Dez reis de gato esquelético de pêlo molhado, ainda de olhos remelados, abandonado pela mãe num baldio. Talvez tenha sido por vê-lo a fixar o sofá onde costumavas sentar-te a ler o jornal, religiosamente deixado à porta de nossa casa pelo Sr. Alfredo da tabacaria em frente, que despertou o que ao princípio pareceu ser um desconforto doído aqui no peito. Uma ansiedade. Chamei-o. Fez de conta que não me ouviu. Educaste-o muito mal, mas agora não há nada a fazer, já está velho e tonto como eu. Sem ti a servir de intermediário, temos que nos suportar um ao outro e esperar por melhores dias. Dirigiu-se para o sofá com pose de quem se borrifa completamente para mim. Trepou para o assento e deitou-se na mesma posição enroscada como quando se punha ao teu colo. Nesse instante a dor dentro de mim foi tão grande que as lágrimas descontroladas rolaram autónomas pelos vincos das minhas rugas. Sabes amor, nesse mesmo instante pude sentir o cheiro a colónia que se libertava do teu rosto logo pela manhã após o barbear e que inundava a casa. Nem mesmo depois de reformado perdeste o hábito de te barbeares manhã cedo. Eu costumava dizer a brincar que tu libertavas cheiro como as doninhas tal o rasto de odor atrás de ti. Odor que sei de cor e o sinto à distância, na rua ou no autocarro, em rostos que não se assemelham ao teu. Sabes amor, tenho conseguido enganar direitinho a saudade. Arranjo sempre algo com que passar os meus dias. Sabes bem que não consigo estar parada. Cuido da casa. Trato das minhas plantas. Faço as compras habituais. Converso com as vizinhas. Dou os meus passeios. Ralho com o Óscar. Mas hoje, hoje não sei que diferente há dos outros dias. Hoje não consigo conter esta dor que me sufoca o peito e me faz desesperar de infrutífera saudade. Hoje as tuas memórias são insuportáveis recordações da minha perda. Ter de continuar sem ti, hoje, parece-me missão completamente impossível. Hoje, um dia que começou igual a tantos outros, dei conta da minha solidão mal disfarçada que se engana a si própria com monólogos lançados a um gato caprichoso com manias de gente. Hoje, ficou insuportável saber-me sem ti. Amor, fazes-me falta…

15 de Setembro

quarta-feira, setembro 12, 2007

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Quis a Divina Providência, ou o mero acaso que eu tivesse nascido a 15 de Setembro. Desconfio que tenha sido mesmo o mero acaso, porque a Divina Providência descartou-se imediatamente de qualquer responsabilidade à data da minha concepção, não fossem os meus pais apresentarem qualquer reclamação à posteriori e querem devolver-me à procedência (como todos sabem ainda não são emitidas Certificações de Qualidade para recém-nascidos e eu sou o perfeito exemplo acabado da imperfeição).
Gosto particularmente deste dia, por ser o dia do meu aniversário é claro, mas também por ser a meio do mês (diz-se que é no meio que está a virtude… embora andem por aí umas virtudes no meio melhores que outras… digo eu…) e por Setembro pertencer ainda à estação mais quente do ano, sem no entanto apresentar as temperaturas tórridas de Julho e Agosto. Gosto de temperatura quente q.b. mas não tolero bem ambientes escaldantes (bom, em abono da verdade, depende do ambiente escaldante e principalmente da companhia que o proporciona… nesse caso, quanto maior a canícula melhor… digo eu, também…).
Os meus pais estiveram para não ter filha primogénita (se na altura teriam encarado mal esse facto, hoje, passados estes anos todos e sabendo o que sabem, tenho cá para mim que teriam considerado uma bênção). Segundo relatos da minha mãe, nasci sem sinais vitais consistentes devido a horas prolongadíssimas de parto sem assistência apropriada, com alguma negligência por parte do pessoal médico da maternidade Júlio Dinis, que por ser o primeiro parto da minha mãe, acharam que a coisa iria demorar e abandonaram-na literalmente à sua sorte no corredor horas a fio, contorcendo-se de dores. Como devia ter visto a luz do dia aos primeiros raios de sol da manhã, mas só consegui por fim nascer às 3,30 h da tarde, apresentei-me a este mundo com uma coloração de pele chiquérrima, que ainda hoje aprecio imenso – azul púrpura (mais comummente conhecida por “roxo” - fiquem a saber que é a cor da moda para a próxima estação, qualquer coisa que comprem tem de ser púrpura, não se esqueçam!), o que só demonstra o meu elevado sentido estético desde tenra idade. Diz também a minha mãe que não chorei ao nascer devido ao meu estado semi-comatoso, mas para mim era já uma assertiva demonstração da minha paciente e abnegada personalidade Yin face às adversidades e contrariedades do meio (ou então estava a fingir-me de morta mesmo, na vã esperança de se esquecerem de mim a um canto, quando me dei conta ao que é que vinha – santa inocência - meus amigos, esta vida não é fácil e enganar-se assim um ser tão desprotegido devia ser proibido e dar direito a compensações financeiras elevadíssimas pelos traumas sofridos!). Isso valeu-me vários dias dentro duma incubadora onde os médicos tentaram disfarçar a borrada que cometeram (aparentemente até conseguiram esse propósito e deixaram-me com um ar superficialmente normal), mas temo que o futuro brilhante como investigadora científica ou como avalizada engenheira das altíssimas finanças, traçado nos mais auspiciosos horóscopos natais para a minha pessoa, tenha ficado nesse dia definitivamente comprometido por essa grave falha de oxigénio no meu pequeno e inocente cérebro, situação essa que até hoje ainda não foi aquilatada convenientemente e suspeito ser ela a responsável pelas “ouras” que de quando em vez me passam pelas vistinhas, principalmente quando certos elementos do sexo masculino desfilam à minha frente (é uma condição deveras constrangedora e causadora de grandes incómodos, posso-vos assegurar, é que se não são os pequenos a segurar-me, estatelo-me redonda no chão!). Já para não falar nas inequívocas falhas de memória sobre certos assuntos inconvenientes. É impressionante como se me varre tudo da memória ficando esta mais branca que lençol lavado com Xau (será que ainda vou a tempo de pedir uma choruda indemnização à maternidade…?).
Bom, apesar dos defeitos de fabrico, cá me consegui aguentar nesta selva até à data e já que tenho de cá andar que seja por muito tempo. Embora acredite na teoria da reencarnação, vá que Budha se enganou nos cálculos e só temos uma única oportunidade de fazermos figuras tristes neste planeta ou noutro qualquer, o melhor é aproveitar o máximo de tempo possível e continuar a fazer figuras tristes por muitos e longos anos… digo eu…!

P.S. – 15 de Setembro é o Dia Europeu das Doenças da Próstata. Com 365 dias para escolherem, tinha logo que ser o dia do meu aniversário, chiça! Pronto, ok! Antes esse que o Dia Europeu ou Mundial das Doenças Venéreas! Então para os meus leitores (masculinos apenas, os femininos estão excluídos deste dia, ok?) os que ainda têm próstata, queiram fazer a finesse de consultar estes sites aqui:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Maleana_int.png

http://www.apurologia.pt/eventos/prostata2007.htm

E façam o favor de se cuidar, ok?

Encontros Imediatos - Parte II

quinta-feira, julho 26, 2007

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Ora quem diria, hein? O Barros por aqui! Há quanto tempo não o via! Faz, quê? Uns 9 – 10 anos? Talvez… Grandes tempos, aqueles! Noitadas, copos, mulheres… bela vida aquela! Poucas preocupações. Grandes estroinas que nós éramos. Ninguém nos segurava! Laura nem sonha metade do que eu fazia… Xiiii! Se ela soubesse… mesmo agora, era capaz de se zangar a sério comigo. Não estávamos casados, mas já namorávamos, o que na cabecinha louca dela é tudo a mesma coisa! Já na altura tinha uns ciúmes danados cá do “Je” que não era brinquedo! Não percebe que um homem tem de viver essas coisas antes de se casar! Bem, e porque não depois de casar? Um homem não é de ferro, chiça! Que saudades! Não tinha metade das preocupações de agora. Não aturava o Nunes lá no escritório – aquele fodinhas – que me massacra o juízo com os seus caprichos de chefe ronhoso. Não havia objectivos mensais e anuais a cumprir. Só vida boa pela frente! E Gajas..! Nisso o Barros sempre teve olho e jeito. Arranjava sempre mulherões de se tirar o chapéu! Como aquela morena, linda de morrer, boa como o milho com quem ele se “pavoneou” literalmente no ultimo semestre da faculdade! Como era mesmo o nome dela? Elsa? Não, espera! Elisa! Isso, era Elisa! Que mulher! Obra abençoada por todos os santos milagreiros…! Mas esta que vem hoje com ele, não é nada de se deitar fora, não senhor! É daquelas que nos comem com os olhos! E que olhos! E aquele gingar… ui, ui! Enche as medidas de qualquer um! Por falar em mulher, a Laura está a demorar que se farta! Pensei que ela conhecesse o Barros, mas é claro que não! Se bem que, por momentos, fiquei com a sensação que se conheciam, mas não! Devo ter falado dele vagamente, quando estudávamos na faculdade, mas nunca se encontraram frente a frente. Se a Laura sonhasse que andava com tal companhia cortava-me os guizos com toda a certeza…! E então se soubesse da missa a metade… Como daquela vez em que partilhamos o quarto de motel com várias garinas…! Já não me lembro o número ao certo, umas 3 ou 4, creio. Também, depois de tanto charro e whisky quem se lembraria? Eram mãos e corpos por todo o lado…! Eh, eh… Que noite aquela! E a Laura que nunca mais vem da casa de banho! Não tarda nada o pedido vem para a mesa e ela ainda lá enfiada! Que mania essa das mulheres! Tirem-lhes as casas de banho nos locais públicos e a vida delas acaba! Com que então, noiva? Sim, senhor! Bela mulher! Quem diria, o Barros de casamento marcado… toca a todos. Agora é que ele vai ver o que é bom para a tosse! Aposto que ela vai controlá-lo até à medula (esta sabe da raça que ele é – vê-se bem que aquela sabe mais que a irmã Lúcia e o Papa juntos…!) Há-de pô-lo de rédea bem curta e de gatas. Se bem que eu não me importava de ser controlado por uma coisinha daquelas! Deve ser puro fogo! Deixava-me esturricar de bom grado e ainda pedia mais! Mas então, a Laura onde se meteu? Ando cada vez mais farto! Um dia passo-me e vai tudo raso, oh se vai! Tantos anos a aturá-la, merecia já uma estátua em minha homenagem! Não fosse as voltas com a Teresa do Aprovisionamento e já tinha morrido de tédio. Não que seja nada de especial, mas sempre é carne fresca e para quem come do mesmo prato há anos sabe sempre bem mudar de ementa!

Amizade e Amor no Dia Internacional do Homem

domingo, julho 15, 2007

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Geralmente, quando falamos de amizade instintivamente distinguimo-la do amor. Quase como a expressão “pão, pão; queijo, queijo” – ou uma coisa, ou outra. Há de facto pessoas, pelas quais sentimos “apenas” amizade e há outras, raríssimas excepções devo admitir, em que felizmente o amor coexiste com a amizade, apetrechando-a duma resistência maior, face às provações que vão aparecendo ao longo da nossa existência.
Aliado ao facto de 15 de Julho ser o dia Internacional do Homem, quero prestar uma pequena sincera homenagem a dois homens muito especiais por quem, para além da amizade, tenho um enorme amor e carinho.
Não, nada disso! Não há qualquer semelhança, ainda que remota, com a canção do Marco Paulo “Eu Tenho Dois Amores”. Nenhum deles é rival do outro, nem tenho qualquer preocupação nem necessidade em distinguir de quem gosto mais e por qual motivo.
Não sou particularmente adepta dos dias Internacionais, ou Mundiais, ou Nacionais de… Como alguém já disse, esses dias soam a um pedido de desculpa: “esqueci-me de ti todo o ano, mas olha estou a lembrar-me hoje!”. Não será este o caso. Ambos sabem o quanto gosto deles e já o afirmei em variadíssimas vezes e para além das palavras sabem que podem contar comigo. E se há o dia da Mulher, concordo plenamente que haja o dia do Homem.
A discriminação do Homem existe e é geneticamente auto-infligida. Infelizmente, para eles e também para nós mulheres, os homens vivem em média menos tempo, têm mais probabilidades de sofrerem de doenças incapacitantes e se às mulheres as hormonas descontroladas fazem ir do riso às lágrimas em questão de segundos, o que convenhamos é perfeitamente inofensivo para integridade de terceiros, aos homens as hormonas aos saltos fazem com que coloquem as suas vidas e a dos outros em situações de altíssimo perigo. Adoram ser os “Senhores da Guerra” (felizmente, não todos!), e poder verificar se o seu nível de testosterona é mais alto que o “inimigo do lado”. Sei do que falo, por duas vezes vi-me envolvida em estúpidas rixas, as quais não provoquei, uma delas com uma faca de ponta e mola apontada ao estômago, apenas porque os meus acompanhantes masculinos decidiram fazer figura de “macho” e aceitar a provocação de outros “machos”, dando início a ridículas “brigas de galos”, cujas consequências poderiam ter sido nefastas para qualquer dos envolvidos.
Bom, mas voltando aos meus homenageados, talvez por serem tão especiais raramente falo deles. Poucas pessoas sabem da sua existência e aquelas que sabem são pouquíssimas as que verdadeiramente conhecem o destaque que eles têm na minha vida. Um deles é tão só o meu mais antigo amigo, aquele que vem já da adolescência. Aquele que me conhece como a palma da mão. Viveu sempre longe de mim, raramente nos encontramos face a face, mas sabemos que estamos ambos à distância dum telefonema ou duma conversa no Messenger, caso precisemos de confidenciar, de rir, de contar problemas mais ou menos graves, de nos amparar. Somos hiper protectores um com o outro, já nos metemos em sérios problemas e criamos antagonismos difíceis de gerir para defender o outro. Temos uma promessa em conjunto que cumpriremos na nossa velhice, daquelas coisas que, por ser tão louca, apenas se fazem quando já ninguém pensará estarmos no nosso juízo perfeito devido ao avançado da idade. Muito provavelmente seremos compulsivamente internados num lar de 3ª idade imediatamente a seguir, mas isso é apenas um ligeiríssimo pormenor. Não raras vezes dá-me ânimo, protege-me, acarinha-me, escuta-me, põe o dedo na ferida se necessário, com ele não há paninhos quentes e é mestre a identificar problemas e pormenores que eu inadvertidamente ou propositadamente deixei escapar. É franco e rude se necessário, não é de meios-termos e borrifa-se para consensos se achar que tem razão.
Com o segundo homenageado, o mais natural seria nunca termos passado dos primeiros contactos coloquiais, tal a má impressão que fiquei de início. Tomei-o por presunçoso, arrogante e superficial. Felizmente, tive oportunidade de o conhecer melhor e de corrigir a minha opinião. Debaixo daquele ar “I’m so cool, babe!” esconde-se uma enorme sensibilidade, avessa às luzes e inquieta, à procura de justificativas sempre que é inadvertidamente exposta, como se tivesse sido apanhada em contramão. Por vezes, parece não prestar uma atenção especial aos assuntos que falamos, no entanto, algum tempo depois, verifico não só estava atentíssimo como entretanto empenhou-se pessoalmente em alterar uma situação desfavorável ou em concretizar algo pelo qual eu tinha demonstrado interesse. Até nas alturas em que qualquer um se sentiria seduzido a ser menos verdadeiro, ele foi sempre honesto, mesmo que aparentemente isso o prejudicasse. Tenho por ele uma admiração enorme quer pelas suas qualidades pessoais, quer pelas suas qualidades profissionais. Adoro o seu humor “non sense” e o jeito como procura animar-me quando estou em baixo. Possui uma atitude positiva perante os desafios e acredita sinceramente em mim e nas minhas capacidades (por vezes, mais do eu). Tem uma resistência à adversidade fora do comum, dificilmente se queixa das situações desfavoráveis e só depois de ultrapassadas consegue dar-se permissão para falar delas. Tem uma capacidade de perseverança e de luta admiráveis. Existe entre nós uma comunicação instintiva, quase a raiar a telepatia, o que facilita a compreensão que um tem do outro. Com ele, tenho sempre a sensação inexplicável mas tão reconfortante de regresso a casa após uma longa e extenuante viagem!
Em ambos os casos sinto um orgulho enorme e um imenso privilégio em tê-los como amigos. Ambos modificaram de forma intencional e positiva a minha vida. Só posso estar eternamente agradecida por existirem!

Puta de Vida

quarta-feira, junho 13, 2007

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Essa mulher, de corpo presente mas de alma tão assiduamente ausente, deambulava num mundo à parte, onde objectos inanimados obedeciam a uma vontade superior, num ritual de vassalagem e onde ele parecia não ter lugar. Por várias vezes a surpreendia nos seus afazeres caseiros, camuflando um sorriso mal disfarçado que levemente se insinuava nos lábios, em segredos sussurrados por entidades invisíveis. E nem o seu áspero ar de censura inquisitória, questionando-a o porquê de tanta alegria descabida, pois não sabia ela que o dinheiro que ele trazia da merda da tipografia, que o patrão fazia questão de todas as semanas lhe atirar para as mãos em sinal de desprezo de chefe altruísta, acto de benevolência extrema para com empregados que não mereciam tamanha gratitude e que deviam agradecer-lhe cada tostão que dali levavam e que o mais certo seria irem gastá-lo na primeira tasca que encontrassem, que olhasse para aquelas mãos ainda manchadas da tinta de impressão negra carregada que lhe marcava permanentemente os dias, as horas, os minutos, os segundos na porra daquela tipografia, sim, esse dinheiro não dava nem para mandar tocar um cego quanto mais para comerem coisa que se visse? onde estava a vontade de sorrir? que lhe dissesse porque ele também queria sentir-se tão feliz quanto ela, e nem o tom de voz alterado que ia subindo a cada palavra despejada da garganta tantas vezes entalada de cada humilhação que o secava por dentro, conseguia apagar o perturbante brilho que enfeitiçava qualquer um que a olhasse fixamente nos olhos. Ela respondia-lhe sempre não há razão nenhuma, de sorriso já esvaído ao canto dos lábios e de voz sumida, não impedindo, no entanto, que ele se sentisse o mais indefeso e miserável dos homens, impotente de absorver a descarga eléctrica daqueles olhos avelã sobre todo o seu corpo, que o atordoava momentaneamente num misto de inquietação e perplexidade. Acabava sempre amedrontado pela experiência, que afastava num ápice com uma explosão exacerbada de irritabilidade, vitimando a primeira porta desprevenida ao seu alcance, atirando-a com toda a força num estrondo que ecoava pelas paredes da sala.

Assombração

quarta-feira, maio 09, 2007

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Desde há várias semanas, algo no seu mais profundo íntimo a confrontava com a certeza de qualquer coisa de inusitado se passava dentro dela. Uma incontrolável estranha energia interior emanava por todo o seu corpo e revelava-se no seu rosto com um tal poder que ninguém conseguia ficar indiferente à sua aura exposta em tamanha clarividência. Apesar dessa força indomável, brotava na sua face numa serenidade plena, suavizando os traços embutidos na pele em sulcos de suor de quem vive do trabalho árduo, iluminando-a em completo estado de graça.
Agora que pensava nisso, constatava desde que essa força enigmática a habitava, vários acontecimentos estranhos se passavam quando estava presente. Panelas e tachos que se atiravam em suicídio desamparado no chão da cozinha sem que ninguém lhes tocasse. Portas que se abriam e fechavam inadvertidamente sozinhas à dúbia passagem de inexistentes correntes de ar. Água que corria abundantemente de torneiras fechadas, estancando a sede de qualquer alma perdida tão rapidamente quanto havia iniciado. Cheiros adocicados a flores, desabrochando por entre as fracturas expostas das paredes, que inebriavam até à loucura as finíssimas ripas de madeira, cruamente desnudadas pela ausência de vários fragmentos de cal.
Tão frequentemente isso sucedia que as irmãs, mais velhas e mais experientes em fenómenos inexplicáveis do além, insinuavam em murmúrios receosos haver espírito desorientado perdido da luz à solta pela casa e a ser verdade impunha-se uma urgente e intensa defumação de tudo quanto lá dentro existisse, desde a cama até à última peça de roupa mais íntima. O que só dava azo a que ela as escarnecesse em sonoras e límpidas gargalhadas, ironizando que só poderia ser o esclerosado espírito solitário do Vidal que, por falta de melhor companhia, a tinha determinadamente procurado desde a quinta do seu avô até a encontrar ali, tão longe do seu aconchegante antro de velho fantasma, para agora carinhosamente a assombrar em gestos de puro amor e dedicação fantasmagórica, mas por ser quase um parente chegado não achava correcto expulsá-lo do seu novo lar, sem mais nem menos, à custa de impiedosas sessões exorcizadas em rezas e em queimas de incenso, mirra e alecrim.
Três meses e meio duraram as tão apregoadas assombrações, às quais, por fim, já todos se tinham habituado e ninguém já estranhava os ruídos de angelicais vozes docemente sussurradas que a seguiam para todo o lado e que a embalavam à noite antes que esmorecesse no leito conjugal exaurida de cansaço. Pararam no exacto instante em que as suas suspeitas se confirmaram e teve a certeza de estar grávida do seu primeiro filho.

Serei Breve

terça-feira, abril 17, 2007

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Não me perguntes por onde andei
Nem o que fiz às minhas mãos cheias de vida,
Que agora retornam de alma vazia
(Perdoa-me, mas não te saberia explicar…).

Peço-te, apenas,
Deixa-me repousar em silêncio
As minhas lágrimas no teu colo
E eu prometo serei breve.

A Memória do Amor

segunda-feira, abril 09, 2007

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- Lembras-te, amor quando passamos aquele fim-de-semana prolongado junto ao mar, há uns anos atrás? Como se chamava a povoação…? Tinha até uma rua íngreme e estreita que desembocava numa praça ampla… Ajuda-me lá!
- Tens a certeza que foi comigo? Não me lembro nada…
- Claro que foi contigo, pois! Com quem mais haveria de ser?
- Não sei. Com alguma das tuas amigas de faculdade. Tinhas tantas….
- Qual quê? Foi contigo pois! Ainda não vivíamos juntos, mas lembro-me perfeitamente! Tiramos uns dias de férias e fomos de carro sem destino, acabamos por ir lá dar meio por acaso. Caramba, tu sabes! Adoraste o sítio e tudo, apesar do mau tempo, recordas-te? Foi em Abril, chovia copiosamente!
- Não faço a mínima ideia
- Chegamos no 1º dia já quase de noite, alugamos um quarto numa estalagem pequena, a varanda até dava para a praia, ouvia-se o barulho das ondas e tudo! Mal pousamos os sacos de viagem, atiramo-nos para cima da cama e fizemos amor várias vezes… não conseguíamo-nos fartar um do outro… Vais-me dizer que não te lembras?
- ….???
- Jantamos lá mesmo, só saímos do quarto no dia seguinte para tomar o pequeno-almoço e quase que apanhávamos a sala fechada
- É provável… lamento mas não me diz nada. Tens a certeza que foi comigo?
- Não te lembras de passearmos à chuva e de voltarmos completamente ensopados? A senhora da recepção perguntou-nos se estávamos em lua-de-mel, tal o nosso ar de felicidade e nós rimos e dissemos que sim?
- Já deve ter sido há muito tempo, mesmo…
- Agora me recordo que foste tu quem se lembrou desse lugar. Já lá tinhas estado. É isso, tu já lá tinhas estado e ao passarmos perto pediste que fizesse um desvio e lá ficássemos!
- Eu?
- Sim, querida! Tinhas lá estado com um grupo de amigos, numas férias de Verão! Essa tua memória…! Depois, quando regressamos tu até disseste que nunca tinhas sido tão feliz quanto o foste lá!
- Hummm… espera, é de S. Pedro de Moel que estás a falar?
- Exactamente! É aí mesmo! Só podias recordar-te! Foi maravilhoso… foi o nosso fim-de-semana!
- Sim, já lá tinha estado, sim! Com o Ca…
Pois… exacto, com um grupo de amigos… uns tempos antes de nós irmos… um ano e tal antes, talvez…
- Diz lá, e não foi memorável? Tenho ou não tenho razão?
- Sim, tens razão. Foi de facto o melhor tempo da minha vida! Por muito que viva nunca o irei esquecer…!

Manel - 4º e Último Dia de Filmagens

quarta-feira, abril 04, 2007

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Actor e Produtor Executivo










Actor e Realizador












Actriz






















Director de Fotografia e Assistente











Figurante e Operador de Som




Mais fotos no sítio do costume:

Manel - 3º Dia de Filmagens

terça-feira, abril 03, 2007

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Eu sei!
Ando em falta...!
Só hoje consegui um pouco mais de tempo para vos mostrar algumas das fotos do 3º dia de filmagens. Cá vão:




Realizador, Actores e Figurante









Realizador e Assistente de Realização










Realizador e Actor









Actores durante as filmagens










Actores, Realizador e Assistente







Produtor Executivo e Operador de Som


Amanhã, vou tentar apresentar imagens do 4º e último dia de filmagens.
Até lá, podem visitar o blog do filme, que está recheadinho de fotos tiradas "pour moi même":
P.S. - Para visualizar as fotos em tamanho grande, basta clickar sobre as mesmas

Manel - 2º Dia de Filmagens

domingo, abril 01, 2007

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Manel - Fotos do 1º Dia de Filmagens

sábado, março 31, 2007

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Grafitti no Local das Filmagens
Preparando actor para a filmagem

Actores e Figurantes Posicionando-se para o Início das Filmagens


Bombeiro "fazendo" chuva no local das filmagens






Actores recebendo instruções do Realizador






Estas são apenas algumas fotos das filmagens do dia de ontem.
Para visualização de mais fotos, já sabem:

Manel - Mais Fotos

sexta-feira, março 30, 2007

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Neste momento estão todos a perguntar: mas então só estas fotos????

Ok, ok, não se enervem! Aí estão mais fotos dos ensaios!
Logo à noite, iniciam-se as filmagens, que prosseguirão madrugada fora. Amanhã haverá mais fotos disponíveis quer no meu blog, quer no blog do filme (já toda a gente sabe o endereço de cor, não é malta?... mas pelo sim e pelo não, é melhor deixar aqui um link, para aqueles mais esquecidos!):









Actor Ensaiando o Seu Papel


Actriz em momento de descontracção

Figurante Posando Para a Fotógrafa


Revendo Caracteristicas dos Personagens

Ah... só mais uma coisinha: vá lá, sejam bonzinhos e rezem com fervor à Nossa Senhora Protectora das Gripes, que interceda por nós. As filmagens de hoje à noite são no exterior e com a chuva que cai, habilitamo-nos todos a ficar doentes não tarda nada!

Manel - Ensaios

quinta-feira, março 29, 2007

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Ontem à noite, decorreram os ensaios para o filme "Manel".

Só para vos aguçar a curiosidade deixo-vos aqui algumas fotos. As restantes poderão ser vistas no blog do filme. Para quem esteve distraído no meu penúltimo post e ainda não tomou nota do endereço, aí vai novamente:

http://www.manelfilme.blogspot.com

Actores Ensaiando Texto

Acertando Pormenores do Texto




Actrizes Experimentando Guarda-Roupa




O Realizador

Manel - O Filme

segunda-feira, março 26, 2007

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Durante o próximo fim de semana (sexta - 31 de março; sábado - 01 de abril; domingo - 02 de abril) o meu tio - João Lisboa - irá rodar o seu filme "Manel" por vários locais da cidade do Porto.

Eu tenho como missão reportar fotograficamente tudo o que se passa durante as filmagens (digamos que tenho de disparar - salvo seja! - a tudo quanto se mova!). Essas fotos serão colocadas online em simultâneo com o que se vai passando no local de filmagem.

Todos poderão acompanhar este processo criativo (quer do realizador, quer da fotógrafa... LOL) através do blog:

http://manelfilme.blogspot.com/

Será uma experiência bastante interessante da qual vocês também poderão fazer parte, visitando o blog e postando os vossos comentários!

Ficamos à vossa espera!

Feliz Dia do Pai

quarta-feira, março 21, 2007

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Não há mais paciência para ti!
A paciência morreu de inanição, à míngua da tua falta de jeito, ou antes da tua nula vontade em ter qualquer jeito!
Para mim, basta!
Não mais sorrisos apaziguadores, tentando disfarçar a tua total ausência de afecto, que justificas na correria constante da tua vida (como se todos nós não tivéssemos vida, como se todos nós não corrêssemos desaustinadamente, como se todos nós – e muito mais que tu – não tivéssemos que nos dividir a toda a hora por mil e um assuntos, afazeres, obrigações, etc.).
Lamento, sim. Não por mim!
A mim tu nunca conseguiste atingir com a tua ignorante superficialidade, com a tua bacoca mania de ser o centro das atenções, com a tua pose de modelo masculino em final de carreira, com os teus fatos Armani, com as tuas camisas Massimo Dutti, com os teus relógios Tag Heuer, com os teu perfumes Valentino, que usas para dissimular a provinciana mentalidade tacanha que desde a nascença se impregnou em ti até à medula. Nem me atingiste mesmo quando me acusaste de querer levar para a frente uma gravidez apenas para te envolver num casamento forçado pela chegada dum filho (só não me conhecendo mesmo nada, alguém me poderia acusar de tamanho disparate!).
Lamento apenas por ele, que merecia um pai muito melhor que tu, que após um ano e tal de ausência não conseguiu dizer nada de mais sensível do que: “estás mais gordo!”.
Nada vindo dele te agrada, como se tu fosses melhor do que ele (mas não és!). Ele é inteligente, coisa que tu não és, ele é sensível, coisa que tu não és, ele questiona-se sobre o mundo e as suas injustiças, coisas que tu não fazes a não ser para fundamentar a tua eterna insatisfação perante a vida, como se ela te devesse vassalagem. Ele é um menino a quem tu exiges a perfeição e nada do que faça será suficientemente grandioso aos teus olhos, o que é grotesco vindo de alguém tão imperfeito como tu, que nunca fez nada de que se destacasse para além de se deslumbrar, atrás dum balcão de loja de roupa (cara, só podia ser!), com a medíocre fama alcançada nas festas da Pipi, da Xáxá, da Sisi e do raio que as parta, que nunca se dignou a olhar o filho como ele merece ser olhado, através dos olhos dum pai!
Sim, falhei (penitencio-me a toda a hora), ele merecia um pai que lhe prometesse que vinha e aparecesse, que lhe prometesse comprar um presente e não se esquecesse, que tivesse estado à sua cabeceira quando delirou com febre, que tivesse brincado com ele, que o tivesse visto crescer, que lhe tivesse pegado na mão quando teve medo, que o tivesse ensinado a andar de skate ou de bicicleta, que tivesse ido às reuniões da escola, que tivesse ficado orgulhoso com as suas excelentes notas, que o tivesse repreendido por jogar playstation a toda a hora, que o tivesse encorajado nos momentos em que vacilou, que tivesse dado protecção quando precisou, que tivesse estado lá para ele, incondicionalmente!
Em vez disso, teve direito apenas a aparições fugazes, cronometradas ao segundo, em que para garantir a tua presença nas festinhas do dia do Pai na escola eu tinha de fazer de motorista, porque não podias ir de autocarro ou de metro, pois dava muito trabalho e o teu filho não justificava tamanha canseira! Teve direito a 2 telefonemas por ano (aniversário e Natal) quando decidiste definitivamente mudar de armas e bagagens para a Madeira. Teve direito a telefonar-te no teu aniversário e ficar a saber que estavas no Porto há já 3 dias e que jantavas com os teus amigos e familiares, mas que ele não tinha sido convidado. Teve direito a idealizar um perfil de pai que um dia descobrirá não corresponde ao que tu és e só espero que ele seja capaz, um dia, te perdoar por isso!
Porque eu não consigo!
Feliz dia do Pai!

Boa Noite Solidão

domingo, março 11, 2007

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Frio
Faz frio
Muito frio
Frio húmido de nevoeiro nocturno colado à pele, pairando entre as fatias delicadas dos lençóis incapazes de afastar das flores azul-cobalto esta eterna sensação de desconforto.
Faz tempo que o meu corpo gelou hibernado nessa rotina espartana diária do Dormir / Acordar / Correr / Trabalhar / Correr / Dormir / Acordar / Correr / Trabalhar.
Terá sido há quanto tempo que a tua mão perdeu a magia libertária de me entorpecer do mundo antropofágico que nos vomita todos os finais do dia em repulsa verde de indigestão? Processo lento, creio eu, iniciado com um beijo distraído apressado quase forçado até, como criança contrafeita recebendo nas faces rosadas os lábios salivados de odor a peixe cozido e azeite das tias matriarcais em domingo de comunhão solene, e finalizado na ambiguidade de vontades alternadas entre o delicado ódio protocolar e a gélida incrustante indiferença. Ao certo, não sei. O que nos fere lentamente em banho-maria, preferimos apagar liminarmente da memória.
Lembras-te, nem sempre fomos este mar imenso de distância. O mundo vibrava ao ritmo da nossa paixão, desse vulcão indomável que nos apossava até ao limite das nossas forças. O centro do mundo ficava exactamente aqui, neste mesmo lugar, onde agora tirito de frio.
Frio que se apodera de mim mesmo quando dou pelo ranger das molas feridas pelo peso do teu corpo na extremidade mais paralelamente oposta na vasta solidão duma cama de casal. Finjo estar adormecida e tu finges acreditar que já adormeci. Dois corpos deitados, longitudinalmente afastados na cama e na vida. Há muito deixamos de ser a sede, a fome e a chama um do outro. Apenas indiferença de tecto, mesa e cama partilhados.
Quando foi que deixamos essa fina camada de gelo se instalasse e nos arrefecesse por dentro e por fora, assassinando-nos irremediavelmente um para o outro? Não faço ideia.
Embalo-me todas as noites na solidão de costas voltadas para um corpo estranho, tão gelado quanto o meu.

Rita

terça-feira, fevereiro 27, 2007

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Esforço-me por concentrar no teu rosto de mulher menina de olhos negros que me fitam lá da moldura, que encarcera a tua foto desfigurada pela transparência de neblina etílica dum copo de gin tónico. Os teus longos e tortuosos caracóis escuros descem vertiginosamente pelos ombros adolescentes, emoldurando a tua face de Anjo do Apocalipse. Tão bonita!
Rita…
Passou mais um dia
Carrossel imparável
Faz quanto tempo? Não me recordo ao certo. A embriaguês onduladamente estonteada turva-me as contas precisas, qual naufrago sobrevivente numa ilha desértica, obsessivamente decoradas à força de tanto as calcular. Cada ano que passa, cada mês, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo é tempo a mais… e o carrossel não pára…
Senhoras e Senhores, Meninos e Meninas … nova corrida, nova viagem…
E as pessoas lá fora continuam a atravessar as ruas em corridas apressadas de formiguinhas desvairadas, e os carros seguem o seu ziguezaguear de estradas em trânsito intestinal permanentemente obstipado, e as lojas abrem-se no seu melhor esplendor de bailarinas de cabaré em início de carreira, e os alunos arrastam-se penosamente pelos passeios em direcção ao cárcere que os aprisionará por várias horas de tédio, e a cidade respira atarantada ebulição constante sem que ninguém dê pela tua falta, Rita.
Volatilizar-se no ar, desaparecer sem deixar rasto, perder-se no mundo, sem que a memória duma única pessoa (uma só, bastava apenas uma, Rita) com quem te cruzaste nesse dia tivesse ficado presa ao teu sorriso, à tua alegria de viver, aos teus olhos negros profundos!
Como é possível alguém te esquecer, Rita? Apagarem-te da memória… milhares de formiguinhas apressadas, correndo para um destino indefinido e nenhuma se lembra de ti, Rita! Se foste de livre vontade. Se foste obrigada. Ninguém sabe. Ninguém se lembra.
Eu lembro-me de ti. A tua mãe também. Ela, que ainda há pouco acordou transpirada em pânico, de coração acelerado num grito porque no sonho dela eras um corpo sem rosto. Desfigurado. Sem memória. É esse o nosso pânico, Rita. Esquecermos aqueles pormenores que só os pais conseguem enumerar de olhos fechados e que o tempo insiste em pregar partidas às nossas teimosas lembranças. A cicatriz no teu joelho da queda espalhafatosa da bicicleta, o sinal preto no canto da tua boca, a pinta no teu olho esquerdo. Esses mesmos pormenores que procuro em todos os rostos que se cruzam comigo. Procuro-te desaustinadamente em cada um deles, esperançoso que um me traga noticias tuas, que um transporte consigo memória da tua alegre rebeldia, que um me devolva a tua ansiada presença!
Vivo para isso, Rita… nada mais!

Anjo de Asas Quebradas

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

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Nada mais peço que a intensidade latejante
Que sustenta esse seio na minha mão inquieta.
Lufada de ar arquejando a vontade dum beijo
Numa dança de corpos envoltos em desejo naufragado.

Ela é menina de olhar veludo profundo
Que embriaga as minhas noites e os meus dias
E se esquiva por entre a perplexidade dos meus dedos
Sempre que a procuro para lá da luz névoa do seu rosto.

Ela é pássaro ferido, descansando docemente no meu abraço
Em melancólico pensamento distante,
Revisitando ávidas memórias de outros beijos
Gravadas num outro abraço, que não o meu

Ela é o meu anjo de asas quebradas,
Voando a esmo na escuridão dum trilho intuído,
Perdido há muito das palavras sussurradas do Amor.
Soubesse eu iluminar-lhe a vida…

O Aborto

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

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O Sô Tôr dá-me licença que me sente…? Desculpe o meu nervoso miudinho mas nunca me vi metida em tais andanças. Não sei quem me denunciou… Com toda a certeza foi a Joaquina do r/chão frente, nunca pôde comigo aquela porca! (o Sô Tôr desculpe os meus palavrões, é do nervoso). Nunca lhe fiz mal nenhum, mas desde que o meu Luís lhe partiu uns vasos, horríveis por sinal, que ela tem na entrada do prédio que essa mulher não pode comigo não senhor. Sabe, o meu Luís tem 5 aninhos, um amor de menino, mas traquinas como qualquer criança (O Sô Tôr tem filhos? Então, sabe como a canalha pequena é… nem com 30 olhos conseguimos impedir que façam asneiras) e um dia tropeçou nos estupores dos vasos. Ui… feios que era uma dor de alma, mas a mulher tinha-lhes um amor. Sabe, é daquelas que gosta mais das plantas do que das pessoas. As filhas andam num desmazelo que só visto, sujinhas… mais parecem umas mendigas, mas o raio das flores sempre regadas e cuidadas a preceito. É sim, senhor. Vai daí que para se vingar ela fez a denúncia e me meteu nesta alhada das grandes. Tão certo quanto me chamar Lucinda. O homem dela é uma santa criatura, não desfazendo…Não faz mal a uma mosca, um paz d’alma. Dantes ainda acompanhava o meu José até ao café e bebiam umas cervejitas juntos, mas sabe o Sô Tôr, o meu José tem muito mau beber e com uns golitos a mais é uma desgraça. Insulta toda a gente, desafia este mundo e outro para a pancada e o Raul, é como se chama o homem da Joaquina, não estava para se incomodar e deixou-se disso. É… o azar do meu José é a bebida, sabe…? Não fosse a bebida e era um bom homem. Mas não toca nas crianças, isso não. A Rita, a minha mais velhinha, é a luz dos olhos do pai. Verdade seja dita, nem a cair de bêbado ele bate nos filhos, isso não! A mim, só quando o contrariam lá no café ou o jogo da bola não calha lá como ele quer e ele vem cego para casa. Mas agora já sei o que fazer nessas alturas. A Micas do café, sabe Sô Tôr, fomos colegas na escola primária, colegas de carteira, muito minha amiga por sinal, telefona-me quando vê que ele está tocado de mais da conta e eu pego nas crianças e abalo para casa da minha mãe. Ele tem respeitinho à minha mãe e não se atreve a ir lá quando está com os copos, não senhor. Tentou uma vez, mas ela botou-o a correr rua abaixo. A minha mãe é daquelas de pêlo na venta Sô Tôr, não há homem que lhe meta medo... Quando apareci outra vez de barriga, ela disse: Marisa, tu já tens 2 filhos para criar, pensa bem na tua vida. O teu homem gasta o dinheiro todo no vício. Com ele não podes contar para nada. O que tu ganhas na fábrica mal dá para vos sustentar (isso é bem verdade, não fosse ela ajudar-me e nós não tínhamos que comer às vezes), pensa bem na tua vida rapariga! Sabe, Sô Tôr, eu se pudesse não tinha feito o desmancho, verdade seja dita, mas como é que me aguentava com mais outra boca a comer lá em casa? Era a minha desgraça! Em tempos cheguei a ir a uma consulta lá no centro de saúde, a médica deu-me umas pílulas para tomar, mas o meu José proibiu-me. Disse-me que só as mulheres que se deitam com uns e com outros é que tomam aquelas coisas. Ele é muito ciumento, o meu José. Matava-me de pancada se me apanhasse a tomar isso. Usar a camisinha também não quer. Já me disse, homem que é homem não põe lá essas coisas na… no… O Sô Tôr sabe onde… Vai daí, fiz o desmancho sim senhor. A minha madrinha Teresa é vizinha da enfermeira parteira. Foi ela que combinou o dia e a hora. Sabe Sô Tôr, parecia que não estava em mim, que não era comigo. Se me tivessem levado para o matadouro teria ido na mesma. A minha cabeça estava oca. Graças a Deus correu tudo bem, uma pessoa ouve umas histórias que às vezes a coisa dá para o torto, mas a minha madrinha já me tinha dito que a enfermeira era conscienciosa e que não me apoquentasse que tudo iria correr pelo melhor. Sabe, dentro do azar, tive sorte! Não sei o que seria dos meus meninos se me acontecesse alguma coisa má. Deus me livre, só de pensar…! Seria a desgraça deles também. Com o meu José, não posso contar para criar os filhos… Depois, olhe, fui para casa. Já tinha avisado na fábrica que precisava de faltar uns dias, inventei a desculpa que a minha Rita tinha apanhado a escarlatina na escola e lá fiquei até ter forças para me aguentar de pé. Não contava era que a porca da Joaquina fizesse a denúncia, não senhor. Ainda estou para saber como é que ela soube disto… É uma invejosa aquela mulher, só vive com o mal dos outros! Acredita o Sô Tôr que nunca lhe fiz mal nenhum? Só porque o meu Luís lhe partiu a porcaria dos vasos…! Feios de doer a alma! O Sô Tôr acha que eu posso ir dentro? Nunca entrei numa prisão nem de visita. Somos pobres, mas Graças a Deus nunca a minha família foi parar à prisão por nenhum motivo. Meu Deus, se for presa, o que vai ser dos meus filhos…?

Desgaste

terça-feira, janeiro 30, 2007

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DES … GAS … TE. Desgaste. Desgaste. Desgaste. Desgaste. Palavra que martela incessantemente em mim quando penso na minha vida. O que eu sou. Um enorme desgaste de mim próprio. Um dividir constante do meu ser pelos mais diversos assuntos. Impotente de estancar a torrente, divido-me pelas inúmeras experiências que a minha vida se transformou, sem tempo para abraçar como gostaria grande parte delas, inutilmente competindo contra o tempo que não tenho. Que não temos... Lutei contra as probabilidades para chegar até aqui (against all odds, my dear…), sacrifiquei cada segundo para poder concretizar cada sonho, cada projecto, cada objectivo. Como tu dizes: divergir do plano mortal (lês-me a alma…). Cansaço. Um enorme cansaço. Incapaz de inverter o ritmo imparável da vida, absorvo-a incessantemente numa voragem obstinada, na vã tentativa de a deter primeiro. Só. Ando só. Tão só… Saberás tu do que falo? Só e sem tempo. Para te dizer essas coisas. Coisas que quero dizer-te. Preciso dizer-te. Escuta-me. Ouve-me por favor, para lá deste muro que levanto ordenadamente, tijolo a tijolo, ao meu redor. Eu sei que tu me ouves desse lado. Fecho os olhos e visualizo o teu rosto de traços subtilmente diluídos na penumbra. Pressinto-te no escuro silêncio perturbado apenas pela tua respiração compassada. Sinto-te à escuta, atenta aos meus incorpóreos sinais, à dor que não mostro, às lágrimas que não liberto, à surdez dos meus gritos. Lês-me o pensamento. Assusta-me que o faças. Preciso que o faças. Que me vejas para lá dos meus deveres, obrigações, do hoje não posso, amanhã também não, vou tentar, não sei se dá, provavelmente não… não posso. Tenho receio. Receio que te levantes desse lado do muro que ergui ordenadamente, tijolo a tijolo, e desistas de me escutar. De estar atenta. Receio que desistas de mim. Se tivesse coragem pedir-te-ia: não desistas de mim. Não posso. Não devo. É melhor não. Melhor será continuar a viver assim. Andar sempre. Não parar…

Uma Ida à FNAC

terça-feira, janeiro 23, 2007

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Ele (à frente dela, com ar solícito): Deves sentir-te bastante só. Se calhar fazia-te bem arranjares alguém que te desse carinho. És bonita, interessante, inteligente…
Ela (vagamente distraída, folheando um livro que retirou da prateleira): Agradeço a tua preocupação.
Ele (como quem partilha um conselho): A sério, alguém que te preenchesse, não precisa de ser nada de muito sério… alguém com quem pudesses passar os fins-de-semana e depois à semana cada um tinha a sua vida.
Ela (impaciente pelo rumo da conversa, já adivinhando onde levaria, finge não perceber, continuando a folhear o livro): Desculpa, não estou a entender. Alguém que me preenchesse mas que não fosse nada de sério? Que queres dizer com isso?
Ele (no mesmo tom de voz): Claro. Todas as mulheres precisam de alguém que as trate bem, tu sabes… não és menos que as outras!
Ela (tirando os olhos do livro, irónica): Pensei que todos os seres humanos precisassem de ser bem tratados… afinal, andei toda a vida equivocada! Apenas as mulheres necessitam disso…
Ele (percebendo a ironia dela): Não te faças de desentendida, sabes muito bem a que me refiro. Podias perfeitamente ter alguém, sem compromisso. Aproveitavas o bom da situação, dormias acompanhada, sentias-te mais preenchida e andavas de melhor humor!
Ela (fingindo recapitular os argumentos): Vamos lá ver se bem entendi. Na tua opinião, todos os meus problemas ficariam resolvidos se desse umas quecas, é isso? – sem compromisso é claro! Mas que brilhante ideia! Como não consegui ver isso antes…! Mas é claro! Dou umas quecas e dum momento para o outro a minha vida passa de cinzento carregado para a paleta de cores do arco-íris! Fenomenal! Ainda por cima, melhora o meu humor! O que uma pila é capaz de fazer por uma mulher!
Ele (ligeiramente irritado): Irra, tu e o teu mau feitio! Claro que não resolve tudo, mas ajuda em muita coisa! Não me digas que não gostas?
Ela (rindo): Claro que gosto! Mas colocar num homem, e em particular numa parte do seu corpo, a salvação para todos os meus problemas é completamente fora de propósito e é exigir de mais do pobre coitado, convenhamos, para além de que não conheço nenhum que possua tamanho poder, por muito bons argumentos que ele apresente na parte fisionómica em questão
Ele (visivelmente zangado): Lá estás tu a desconversar! Só acho que iria fazer bem a nós os dois, porra!
Ela (com ar inocentemente surpreso): Ah… referias-te a ti? Muito bem, façamos então um exercício de imaginação…! Suponhamos que eu alinhava no esquema… dávamos umas quecas aos fins-de-semana, sem compromisso, claro. Posso então dar quecas com outros homens durante a semana, suponho...
Ele (peremptório): É claro que não!
Ela (sarcástica): Então não entendo…! Mas não é sem compromisso?
Ele (tentando demonstrar convicção): É. Mas eu não andaria com mais ninguém, logo tu também não andarias com mais ninguém!
Ela (mordaz): Mau...!!! Andar...??? Mas se não vamos ter compromisso, logo eu não vou andar contigo, certo?
Ele (um pouco confuso): Certo…
Ela (continuando): … Se não vou andar contigo, posso dormir com outros, certo?
Ele (amuado): Chiça! Não se pode mesmo conversar contigo! És sempre a mesma coisa! Tu e as tuas ideias feministas…!

Wie Bitte...?

quarta-feira, janeiro 17, 2007

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Tempo cinzento completamente identificável com o clima habitual alemão – há quem não aprecie. Eu gosto. Se houvesse neve estaria perfeito. Espero o táxi que me há-de levar ao aeroporto. A empregada do Hotel desce e sobe várias vezes as escadas que levam à sala de pequenos-almoços, onde os hóspedes retardatários se deliciam sem pressas com as iguarias retiradas da mesa de buffet.
Pára um automóvel em frente ao Hotel, que identifico primeiramente como um habitual fornecedor de mantimentos, tal é a profusão de anúncios a comida colados nas portas laterais. Trata-se, afinal, do meu táxi, conduzido por um alemão duns 2 metros de altura e uns 150 kg de peso. Morgen! Flughafen? Ok! Vamos lá então. Aufwiedersehen… Bis nächstes mal! O taxista alemão acomodado com os seus 150 kg ao assento desata numa correria desenfreada pelas estradas secundárias, bordejadas de pradarias germânicas, como se não houvesse amanhã. Deve ser, muito provavelmente, o pé direito do senhor, a pesar uns bons 30 kg displicentemente pousado no acelerador qual peso morto! Entschuldigung, sabe hoje não me dá jeito nenhum morrer nas estradas alemãs. Não é por nada, noutro dia até lhe faço a vontade, mas hoje tenho assuntos pendentes no Porto que só eu posso tratar, Verstehen Sie? Para além dum filho à minha espera, quer ver a foto? Um pouco antiga, sabe mãe desnaturada que não tem 1 foto actualizada do filho na carteira, mas como ia dizendo tenho assuntos inadiáveis no Porto, Ya, sehr Wichtig sim senhor! Ok, belo começo de manhã para quem queria chegar ao aeroporto relaxada, não está nada mal. Além disso tenho 2 horas para o check-in e formalidades Ya! 2 Stunde… Keine pressa, Ya? Danke!
Chego ao aeroporto milagrosamente inteirinha. Fila (pequena, Graças a Deus) no balcão do check-in. Passo ao jovem sentado à minha frente a reserva de voo efectuada online e o meu BI. Confuso, mira-o de frente, de verso, de lado, de pernas para o ar (houvesse mais lados e ele tê-los-ia visto também). Soubesse ele português e teria tido tempo para decorar o nº. do BI, a data de emissão, o local de emissão, o meu nome completo, o nome do meu pai, o nome da minha mãe, a naturalidade, o local de residência, a data de nascimento, o meu estado civil, a minha altura, o meu nº. de soutien e de calças (se essa informação aí estivesse contida…). Ok, já entendi. Deve ser a idade, só pode! Vê à sua frente uma jovem moçoila e no dito cujo cartãozinho à sua frente, ora feitas bem as contas, dá 42 aninhos, não é verdade? Onde está a cota afinal? A menina enganou-se e trouxe o BI da sua mãezinha? Sabe, isto cá entre nós, os cremes anti-rides, hoje em dia, fazem milagres, wissen Sie? Ya! Wirklich. Oh pá, não sei dizer isso em alemão, porra! Mas tu deves saber do que falo, o que está a dar são os metrossexuais e os seus boiões de cremes e peelings “anti-age”, por isso não é novidade para ti, oh mocinho de cútis perfeita! De tanto esperar, pergunto-lhe Kann Ich hilfen? O que é um pouquinho absurdo, convenhamos, pois ele está aqui para me ajudar e não o contrário, mas Ok, já estou por tudo! Wir haben ein Problem… Ai não! Desculpa lá mas problemas é que não!!! Querem lá ver que fizeram overbooking e agora querem mandar-me para o porão??? Tem lá a Santa Paciência! Nein!!! Totally out of the question! (nesta altura já raciocino em todas as línguas e mais alguma). Uns segundos depois e a coisa esclarece-se, Nein, Nein, Alles in Ordnung… O rapazinho já ruborizado wie eine Tomate, quase a ter uma apoplexia a qualquer momento lá me explica que eu tenho muitos nomes e não conseguia encontrar a minha reserva – 6 sind soviel – mas o menino não sabe que numa reserva é sempre o 1º e último nome que se verifica? Dahhhhhh!. Ok filho, não te preocupes, eu apresento reclamação aos meus pais e eles mudam-me o nome mal chegue a Portugal. Ist Das Ok für Sie? Ya? Wunderbar! Não quero que te falte nada!
Retenção de custos ataca em todo o lado e nas companhias aéreas “Low Cost” pior ainda, de modo que o menino do check-in está agora no balcão de embarque… Meine Damen und Herren… hora de pegar no boarding card e nos 329 sacos que trazem convosco e ir para a fila de embarque. Não se atropelem uns aos outros nem furem a bicha pelas laterais, as velhotas das filas da frente, cheias de pressa para chegar a Palma de Maiorca, podem descansar ainda os traseiros porque só estamos a chamar os cordeirinhos, perdão, os passageiros da fila 25 até à 31. Toca a embarcar rapidinho que o sol de Maiorca aguarda pelas vossas peles encarquilhadas para vos presentear com um carcinoma de nome indecifrável ao vosso conhecimento, mas perfeitamente enquadrável no plano de saúde alemão. So, kein Problem. Alles in Ordnung…!
Chegada a minha vez, o menino entrega-me o destacável do bording card, dizendo Schönen Flug, Frau Lisboa! Wie Bitte...? Única com direito a nome no meio de tanta maralha? Afinal sempre vale a pena ter 6 nomes em terras germânicas. Não há hipótese de passar despercebida!

Morreram no Deserto e o (F.C.)Porto Aqui Tão Perto...

segunda-feira, janeiro 08, 2007

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Eu e os jogos de futebol assistidos ao vivo, no estádio, andávamos a modos que assim desavindos, desde que paguei os olhos da cara por 2 bilhetes – um para mim e outro para o meu filho – para assistir à inauguração do EURO 2004 no Dragão e saímos todos de lá com uma humilhante derrota frente à Grécia!

Há dias, quando me falaram em ir ver o jogo do F.C.Porto / Atlético, para a Taça de Portugal, achei que dois anos e meio já era tempo suficiente para dar tréguas ao meu desapontamento perante profissionais pagos a peso de ouro e que não conseguem ultrapassar objectivos frente a adversários com menor potencial (ainda falam à boca cheia do salário do Paulo Macedo – o homem pela pechincha de € 23,000,00 / mês consegue apresentar resultados financeiros inquestionáveis, muito superiores a qualquer equipa portuguesa de futebol na sua melhor época!). Além disso, a imprensa havia já informado que o Vítor Baía (meu rico menino…!) iria defender as redes do Porto. O preço (€ 8,00) era acessível e, perante o Atlético, o que poderia correr de errado…?

Assim, eu e o meu filho lá tiramos os cachecóis do F.C.P. do fundo das gavetas, arejamo-los do mofo e deixamos incorporar em nós o espírito de adepto, com direito a cânticos e tudo! Foi de facto arrebatador reentrar naquele estádio, onde a moldura humana antevia uma tarde bem passada – a maioria, tratava-se de famílias inteiras (mãe, pai, filhos e nalguns casos avós), o que me agradou bastante, pois sempre achei que o futebol deveria ser vivido dentro desse espírito.

Mas a minha satisfação quedou-se mesmo por aí. Mal soou o apito inicial, não houve cântico ou incentivo de adepto acérrimo que conseguisse disfarçar o peso das rabanadas, do bacalhau, do pão-de-ló e do bolo-rei, emborcados no Natal e no Ano Novo, que impediam os jogadores do F.C.P. de fazer aquilo para que são pagos principescamente – jogar à bola (de preferência bem, claro está!). Foi confrangedor assistir a tamanho entorpecimento, onde as próprias pernas atrapalhavam… Há jogos entre solteiros e casados com muito melhor espectáculo!

A 1ª parte arrastou-se lenta, em consonância com os jogadores em campo. E o golo tardava em aparecer… Quando o jogo reiniciou, houve alturas, raras, em que ainda acreditei que o golo surgisse, não que os jogadores do F.C.P. o merecessem, mas para acalmar o nervoso miudinho do meu filhote que começava a desesperar com tamanha incompetência dos seus ídolos. E o golo surgiu… na baliza do próprio F.C.P., em que o jogador do Atlético (David – nome apropriado para vencer a soberba de Golias!) nem queria crer na tamanha sorte que lhe tinha caído no colo! Mas para quem assistia, o golo pecou por tardio, pois a falta de jeito, de vontade, de ambição, por parte do F.C.P. eram tão evidentes, que envergonhava todos nós que presenciávamos tal jogo!

A partir daí, deu-se o espectáculo ainda mais constrangedor de ver: certos pais e também algumas mães a insultarem os árbitros, os adversários, os adeptos do Atlético e os jogadores do Porto com palavrões que teriam feito corar a vendedora da Ribeira mais versada em linguagem vernácula. Isto tudo, claro está, à frente do seus pequenos rebentos, para que aprendam desde tenra idade como comportar-se de forma apropriada num estádio de futebol!

Houve, no entanto, no final, a humildade por parte de alguns adeptos portistas em aplaudir os vencedores, que não tendo sido brilhantes, pelo menos souberam aproveitar a sorte que lhes apareceu em jeito de milagre divinal (a caminho do Porto, terão passado em Fátima e colocado velinhas à Virgem para que lhes concedesse a graça?) e defender com unhas e dentes um resultado que logo à partida teria parecido missão impossível!

Agora, só me resta colocar os bilhetes à venda em leilão. Pode ser que algum adepto do Atlético queira guardar uma recordação preciosa desta vitória histórica do seu clube e ainda realizo uns dinheiritos que ando a precisar de “cash flow”. Caso ninguém licite, mando-os emoldurar e, à laia de José Mourinho, faço-os chegar à equipa portista para que os pendure nos balneários e “bote” os olhinhos neles sempre que tiver acessos de vedetismo mimado que menospreza os adversários!

Quanto a mim e a um próximo regresso ao estádio do Dragão, creio que vou entrar em época de defeso, por tempo indeterminado…

FELIZ 2007!

quinta-feira, janeiro 04, 2007

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Este ano, decidi não fazer listas de prioridades sobre aquilo que preciso de introduzir ou alterar na minha vida. Acho que ainda estou ligeiramente em estado de choque pelo balanço que fiz nos últimos dias de 2006 sobre o ano que passou... de entre 5 objectivos que me tinha proposto, apenas 1 deles consegui alcançar na plenitude: voltar a escrever regularmente. Em parte, alcançado pela criação deste blog, que não sendo "top hit" de visitantes, possui vários leitores assíduos e bastante participativos, o que muito me agrada. Melhor do que isso, só mesmo o prazer de me ter reencontrado com a escrita, da qual andei arredada tempo de mais (tinha esquecido completamente o quanto me é importante escrever).
2006 foi daqueles anos que, não tendo sido dos mais felizes para mim, me obrigou a reformular muitos alicerces da minha vida (profissionais e pessoais) e suspeito que essa tarefa vai continuar ainda em 2007. Talvez por isso, o melhor é não fazer grandes planos, pois tenho cá para mim que teria de os alterar ou adiar, por inclusão de novas e inesperadas premissas.
2006 foi o ano de todas as revoluções (umas mais pacíficas do que outras) - um autêntico teste às minhas capacidades de luta e perseverança, com algumas batalhas ganhas, outras perdidas e ainda outras em nítido empate técnico à espera de melhores dias para as ultrapassar.
Mas aí está um ano completamente novo à nossa frente, incitando-nos e obrigando-nos a superar os nossos limites e a aprimorarmo-nos como seres humanos.
Desejo sinceramente que todos nós saibamos estar à altura dos desafios que nos traz!
FELIZ ANO DE 2007!