Uma Ida à FNAC

terça-feira, janeiro 23, 2007

Ele (à frente dela, com ar solícito): Deves sentir-te bastante só. Se calhar fazia-te bem arranjares alguém que te desse carinho. És bonita, interessante, inteligente…
Ela (vagamente distraída, folheando um livro que retirou da prateleira): Agradeço a tua preocupação.
Ele (como quem partilha um conselho): A sério, alguém que te preenchesse, não precisa de ser nada de muito sério… alguém com quem pudesses passar os fins-de-semana e depois à semana cada um tinha a sua vida.
Ela (impaciente pelo rumo da conversa, já adivinhando onde levaria, finge não perceber, continuando a folhear o livro): Desculpa, não estou a entender. Alguém que me preenchesse mas que não fosse nada de sério? Que queres dizer com isso?
Ele (no mesmo tom de voz): Claro. Todas as mulheres precisam de alguém que as trate bem, tu sabes… não és menos que as outras!
Ela (tirando os olhos do livro, irónica): Pensei que todos os seres humanos precisassem de ser bem tratados… afinal, andei toda a vida equivocada! Apenas as mulheres necessitam disso…
Ele (percebendo a ironia dela): Não te faças de desentendida, sabes muito bem a que me refiro. Podias perfeitamente ter alguém, sem compromisso. Aproveitavas o bom da situação, dormias acompanhada, sentias-te mais preenchida e andavas de melhor humor!
Ela (fingindo recapitular os argumentos): Vamos lá ver se bem entendi. Na tua opinião, todos os meus problemas ficariam resolvidos se desse umas quecas, é isso? – sem compromisso é claro! Mas que brilhante ideia! Como não consegui ver isso antes…! Mas é claro! Dou umas quecas e dum momento para o outro a minha vida passa de cinzento carregado para a paleta de cores do arco-íris! Fenomenal! Ainda por cima, melhora o meu humor! O que uma pila é capaz de fazer por uma mulher!
Ele (ligeiramente irritado): Irra, tu e o teu mau feitio! Claro que não resolve tudo, mas ajuda em muita coisa! Não me digas que não gostas?
Ela (rindo): Claro que gosto! Mas colocar num homem, e em particular numa parte do seu corpo, a salvação para todos os meus problemas é completamente fora de propósito e é exigir de mais do pobre coitado, convenhamos, para além de que não conheço nenhum que possua tamanho poder, por muito bons argumentos que ele apresente na parte fisionómica em questão
Ele (visivelmente zangado): Lá estás tu a desconversar! Só acho que iria fazer bem a nós os dois, porra!
Ela (com ar inocentemente surpreso): Ah… referias-te a ti? Muito bem, façamos então um exercício de imaginação…! Suponhamos que eu alinhava no esquema… dávamos umas quecas aos fins-de-semana, sem compromisso, claro. Posso então dar quecas com outros homens durante a semana, suponho...
Ele (peremptório): É claro que não!
Ela (sarcástica): Então não entendo…! Mas não é sem compromisso?
Ele (tentando demonstrar convicção): É. Mas eu não andaria com mais ninguém, logo tu também não andarias com mais ninguém!
Ela (mordaz): Mau...!!! Andar...??? Mas se não vamos ter compromisso, logo eu não vou andar contigo, certo?
Ele (um pouco confuso): Certo…
Ela (continuando): … Se não vou andar contigo, posso dormir com outros, certo?
Ele (amuado): Chiça! Não se pode mesmo conversar contigo! És sempre a mesma coisa! Tu e as tuas ideias feministas…!

13 Comentários:

Anónimo disse...

Ah mulher inteligente! E divertida!

Anónimo disse...

Parece que já ouvi falar deste post...que me diz algo!
Acho que ele não começou da melhor forma. Se tivesse dito que estavam os dois sós o diálogo teria sido diferente e ela nunca o iria colocar em tanto ambaraço, embora também esteja ciente que nunca seria fácil convencer a rapariga duma "relação" tão descomprometida.
Em minha opinião esta jovem interessante colocou de lado qualquer hipótese de ter uma relação, de qualquer tipo, em minha opinião, já desistiu.
É fácil qualquer um de nós rever-se naquilo que escreves.
Parabéns pela lucidez!

Lilith disse...

Paula:
Há que encarar a vida com muito humor! ;)

Luís:
Na minha opinião, as pessoas são livres de escolher o tipo e a base de relacionamentos que pretendem. Pessoalmente, não faço objecção quanto ao tipo de relacionamento que duas pessoas escolhem ter entre si, desde que ambas as partes intervenientes saibam claramente as regras e as aceitem. Neste caso, há várias situações que pretendi descrever:
1º - ele querer ter 1 relacionamento sexual, mas apresentar o facto como fosse ela que precisasse e não ele (como se lhe estivesse a fazer o favor de...);
2º - ele achar que todos os problemas das mulheres resolvem-se com umas boas sessões de sexo (na opinião dele ela ficaria "mais preenchida" e de "melhor humor") e mais, elas até gostam mas fazem-se de difíceis;
3º - ele achar que qualquer homem consegue excitar qualquer mulher (ele nem chega a pôr a hipótese que ela não se sinta atraída por ele);
4º - ele querer tudo dum relacionamento afectivo (disponibilidade, carinho, sexo, atenção, fidelidade, etc.) excepto o tal compromisso que, pessoalmente, até hoje ainda não houve alguém que me conseguisse definir exactamente o que isso é.

Quanto à jovem do post, espero sinceramente que não desista de ter um relacionamento afectivo, apesar de reconhecer que este género de diálogos desencorajam qualquer pessoa! LOL

Anónimo disse...

ahhh, lindooo!
faz-me lembrar uma conversa que tive aqui há uns meses.
estranho como passado este tempo, agora sei que essa pessoa partilha a minha visão das coisas.
o ênfase que se põe no sexo para resolver os nossos vazios. mal por mal, que se depositem essas esperanças num relacionamento significativo.
=)

Anónimo disse...

Mas eu entendi, compreendi perfeitamente a tua (da menina da Fnac) mensagem...
O facto é apenas um, retratas perfeitamente o pensar de tantos "eles" e "elas", nunca apenas "deles". Neste mundo de correria em que vivemos, em que cada vez mais os nossos jovens adiam a saída da casa de seus pais, naturalmente se vai assistindo à desresponsabilização, ao adiar de assumir compromissos, a uma vida egoista, ela também muito responsável para crise de valores que actualmente se vive.
Daí eu entender que não é exclusivo dos homens o querer uma relação descomprometida mas por outro lado com algumas imposições.
E eu comecei por dizer que ele abordou mal a questão...
Bjs

Lilith disse...

Arya:
Melhor será resolvermos primeiramente os nossos vazios, caso contrário não há relacionamento afectivo ou sexual que nos valha! :)
Bjs

Luís:
Eu também entendi perfeitamente o teu comentário. Apenas, desenvolvi um pouco mais a ideia no comentário ao teu comentário. LOL
Hoje em dia, esses comportamentos são também evidentes em faixas etárias mais velhas, onde as pessoas já sairam de casa dos pais faz muito tempo.
Bjs

João Lisboa disse...

Uau!!!!
Cada vez gosto mais da FNAC.
Além dos livros de Arte; dos DVDs com aqueles filminhos todos que quero ver; daquelas cenas culturais de musica, colóquios, filmes etc; Agora tem uma outra dimensão com "artistas":
PALHAÇOS!!!!
MUito bem escrito.
BJs

Anónimo disse...

É por isso que eu gosto tanto da FNAC online...

Abraço

Lilith disse...

João:
Não faltam "artistas" por aí... LOL
Bjs

Yashmeen:
Pois, nada disso teria acontecido se ela tivesse ido à FNAC online! Pessoalmente há uma única coisa que a FNAC online não consegue proporcionar: o cheiro tão característico dos livros novos, do qual sou absolutamente viciada!
Bjs

Anónimo disse...

Vê-se mesmo que é uma mulher do Norte, carago!
Beijinhos

Anónimo disse...

Os corações das mulheres operam com uma batida em antecipação aos nossos.

Parece-nos...

Saudaçoes, Frau Lisboa. Du bist wie eine Blume So hold und schön und rein!

Lilith disse...

Ich danke Ihnen für Ihre freundlichen Worte, mein Freund!
Bis bald!

Lilith

Anónimo disse...

Obrigado, meine Freundin.
Bis bald.