Desgaste

terça-feira, janeiro 30, 2007

DES … GAS … TE. Desgaste. Desgaste. Desgaste. Desgaste. Palavra que martela incessantemente em mim quando penso na minha vida. O que eu sou. Um enorme desgaste de mim próprio. Um dividir constante do meu ser pelos mais diversos assuntos. Impotente de estancar a torrente, divido-me pelas inúmeras experiências que a minha vida se transformou, sem tempo para abraçar como gostaria grande parte delas, inutilmente competindo contra o tempo que não tenho. Que não temos... Lutei contra as probabilidades para chegar até aqui (against all odds, my dear…), sacrifiquei cada segundo para poder concretizar cada sonho, cada projecto, cada objectivo. Como tu dizes: divergir do plano mortal (lês-me a alma…). Cansaço. Um enorme cansaço. Incapaz de inverter o ritmo imparável da vida, absorvo-a incessantemente numa voragem obstinada, na vã tentativa de a deter primeiro. Só. Ando só. Tão só… Saberás tu do que falo? Só e sem tempo. Para te dizer essas coisas. Coisas que quero dizer-te. Preciso dizer-te. Escuta-me. Ouve-me por favor, para lá deste muro que levanto ordenadamente, tijolo a tijolo, ao meu redor. Eu sei que tu me ouves desse lado. Fecho os olhos e visualizo o teu rosto de traços subtilmente diluídos na penumbra. Pressinto-te no escuro silêncio perturbado apenas pela tua respiração compassada. Sinto-te à escuta, atenta aos meus incorpóreos sinais, à dor que não mostro, às lágrimas que não liberto, à surdez dos meus gritos. Lês-me o pensamento. Assusta-me que o faças. Preciso que o faças. Que me vejas para lá dos meus deveres, obrigações, do hoje não posso, amanhã também não, vou tentar, não sei se dá, provavelmente não… não posso. Tenho receio. Receio que te levantes desse lado do muro que ergui ordenadamente, tijolo a tijolo, e desistas de me escutar. De estar atenta. Receio que desistas de mim. Se tivesse coragem pedir-te-ia: não desistas de mim. Não posso. Não devo. É melhor não. Melhor será continuar a viver assim. Andar sempre. Não parar…

4 Comentários:

Anónimo disse...

Que palavras deixar para que não te sintas tão só? Que esperança dar a uma amiga para que não desista? Talvez pedir a quem está do lado de lá do muro para que te oiça sempre e nunca desista de ti!
Não sei quanto tempo dedicaste a este post mas que é o máximo, é!

Yashmeen disse...

Nem sabes a quantidade de vezes que já disse estas palavras a mim própria.

Abraço.

Anónimo disse...

Quantas vezes na vida andamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe das pessoas que amamos. Porque será?
Bjs

Anónimo disse...

Parece-me que este texto manifesta genuinamente a nossa verdadeira situação como seres pensantes mas
humanos e mortales. É muito original. Saudações e parabéns, Frau Lisboa!

Obrigado.