Morreram no Deserto e o (F.C.)Porto Aqui Tão Perto...

segunda-feira, janeiro 08, 2007


Eu e os jogos de futebol assistidos ao vivo, no estádio, andávamos a modos que assim desavindos, desde que paguei os olhos da cara por 2 bilhetes – um para mim e outro para o meu filho – para assistir à inauguração do EURO 2004 no Dragão e saímos todos de lá com uma humilhante derrota frente à Grécia!

Há dias, quando me falaram em ir ver o jogo do F.C.Porto / Atlético, para a Taça de Portugal, achei que dois anos e meio já era tempo suficiente para dar tréguas ao meu desapontamento perante profissionais pagos a peso de ouro e que não conseguem ultrapassar objectivos frente a adversários com menor potencial (ainda falam à boca cheia do salário do Paulo Macedo – o homem pela pechincha de € 23,000,00 / mês consegue apresentar resultados financeiros inquestionáveis, muito superiores a qualquer equipa portuguesa de futebol na sua melhor época!). Além disso, a imprensa havia já informado que o Vítor Baía (meu rico menino…!) iria defender as redes do Porto. O preço (€ 8,00) era acessível e, perante o Atlético, o que poderia correr de errado…?

Assim, eu e o meu filho lá tiramos os cachecóis do F.C.P. do fundo das gavetas, arejamo-los do mofo e deixamos incorporar em nós o espírito de adepto, com direito a cânticos e tudo! Foi de facto arrebatador reentrar naquele estádio, onde a moldura humana antevia uma tarde bem passada – a maioria, tratava-se de famílias inteiras (mãe, pai, filhos e nalguns casos avós), o que me agradou bastante, pois sempre achei que o futebol deveria ser vivido dentro desse espírito.

Mas a minha satisfação quedou-se mesmo por aí. Mal soou o apito inicial, não houve cântico ou incentivo de adepto acérrimo que conseguisse disfarçar o peso das rabanadas, do bacalhau, do pão-de-ló e do bolo-rei, emborcados no Natal e no Ano Novo, que impediam os jogadores do F.C.P. de fazer aquilo para que são pagos principescamente – jogar à bola (de preferência bem, claro está!). Foi confrangedor assistir a tamanho entorpecimento, onde as próprias pernas atrapalhavam… Há jogos entre solteiros e casados com muito melhor espectáculo!

A 1ª parte arrastou-se lenta, em consonância com os jogadores em campo. E o golo tardava em aparecer… Quando o jogo reiniciou, houve alturas, raras, em que ainda acreditei que o golo surgisse, não que os jogadores do F.C.P. o merecessem, mas para acalmar o nervoso miudinho do meu filhote que começava a desesperar com tamanha incompetência dos seus ídolos. E o golo surgiu… na baliza do próprio F.C.P., em que o jogador do Atlético (David – nome apropriado para vencer a soberba de Golias!) nem queria crer na tamanha sorte que lhe tinha caído no colo! Mas para quem assistia, o golo pecou por tardio, pois a falta de jeito, de vontade, de ambição, por parte do F.C.P. eram tão evidentes, que envergonhava todos nós que presenciávamos tal jogo!

A partir daí, deu-se o espectáculo ainda mais constrangedor de ver: certos pais e também algumas mães a insultarem os árbitros, os adversários, os adeptos do Atlético e os jogadores do Porto com palavrões que teriam feito corar a vendedora da Ribeira mais versada em linguagem vernácula. Isto tudo, claro está, à frente do seus pequenos rebentos, para que aprendam desde tenra idade como comportar-se de forma apropriada num estádio de futebol!

Houve, no entanto, no final, a humildade por parte de alguns adeptos portistas em aplaudir os vencedores, que não tendo sido brilhantes, pelo menos souberam aproveitar a sorte que lhes apareceu em jeito de milagre divinal (a caminho do Porto, terão passado em Fátima e colocado velinhas à Virgem para que lhes concedesse a graça?) e defender com unhas e dentes um resultado que logo à partida teria parecido missão impossível!

Agora, só me resta colocar os bilhetes à venda em leilão. Pode ser que algum adepto do Atlético queira guardar uma recordação preciosa desta vitória histórica do seu clube e ainda realizo uns dinheiritos que ando a precisar de “cash flow”. Caso ninguém licite, mando-os emoldurar e, à laia de José Mourinho, faço-os chegar à equipa portista para que os pendure nos balneários e “bote” os olhinhos neles sempre que tiver acessos de vedetismo mimado que menospreza os adversários!

Quanto a mim e a um próximo regresso ao estádio do Dragão, creio que vou entrar em época de defeso, por tempo indeterminado…

2 Comentários:

Anónimo disse...

Tanta dor...até doi!
Como entendo essa tua frustração, sou sportinguista, na verdade não andais muito habituados a situações como esta, deixa que te diga, acontece a todos.
Eu andei quase dez anos para voltar a assistir, ao vivo, a um jogo do Sporting. Como vês existem muitos sofredores por isso não tenhas a ilusão que são só vocês que sofrem, que nos compadeçamos da vossa triste história...
Que acho a vossa dor desmesurada, sim. É um jogo, tudo correu mal, o treinador não ajudou colocando tantos reservistas, assim mesmo os que jogaram tinham obrigação de vencer, pelo menos dar outra imagem. Não permitam que um jogo faça esquecer as vitórias que, nem vós acreditavas à vinte anos atrás ser possivel conseguir (gostaria que andasses tantos anos tristes...)
Apesar de tudo preferia, de longe, que o vosso insucesso o fosse no campeonato!!!!!
Bjs.

Anónimo disse...

Eu achei graça. Esse é o espírito da Taça: dar hipótese a TODAS as equipas e não apenas aos gigantes. E é bem feito, para aprenderem a não "dormir na forma".
Fiquei tão contente pela reentrée do Baía que nem isso me abateu.

Abraço