What a Wonderful World - Feliz Aniversário!

quinta-feira, novembro 01, 2007

Hoje é dia de aniversário. Minha avó paterna faria hoje anos. Matriarca na verdadeira acepção da palavra. Adorava sentir a sua extensa prole debaixo das suas asas protectoras. Por ela, a família agregava-se nas datas mais importantes. Nessas alturas sentia-se verdadeiramente feliz. Era o elemento aglutinador de toda a descendência (muitos filhos, muitos mais netos e alguns bisnetos). Tinha um sentido de humor refinadíssimo! Adorava contar anedotas levemente picantes, implicitamente imbuídas de duplos sentidos, que lhe preenchiam o olhar duma inocente malícia quando desvendava o final. A doença terminal, já em fase avançada, tirou-lhe a vontade de as contar e implicitamente a expressão de menina travessa que lhe iluminava a face sempre que seu olhar sorria. Mais do que o medo de morrer, creio que a minha avó odiava a ideia de, após a sua morte, não ter mais os seus filhos, netos e bisnetos junto dela. Isso, entristeceu os últimos anos da sua vida, quando tomou consciência que a doença lhe iria levar a melhor. Hoje, caso ainda vivesse, estaríamos todos em seu redor em grande algazarra festiva. E ela, do canto do seu sofá observando-nos com ar de felicidade em ter todos os seus meninos à sua volta.

Hoje é duplamente dia de aniversário. Alguém que amei intensamente faz hoje anos. Meu primeiro verdadeiro amor. Com ele vivi alguns dos melhores momentos da minha vida e também alguns dos piores. Foi sempre um relacionamento de extremos. Oito ou Oitenta. Ou a subida aos céus ou a descida aos infernos. Psicologicamente perturbador quer nos bons e nos maus momentos. Amei-o muito, mesmo depois de termos acabado. Amei-o mesmo quando o escorracei definitivamente da minha vida (única hipótese de me salvar da espiral de autodestruição que arrastava consigo, não poupando ninguém, muito menos aqueles que ele amava). Amei-o enquanto vivia outros relacionamentos afectivos. Amei-o em corpos de outros. Hoje, tenho por ele um enorme carinho. Alguns anos atrás consegui fazer, se não a paz completa, pelo menos as tréguas com esse passado afectivo tão tumultuoso. Hoje, como sempre, desejo-lhe o melhor, esteja onde estiver. Num aniversário, ofereci-lhe um vinil de Louis Armstrong “SATCHMO”. “What a Wonderful World” faz parte desse disco. Feliz Aniversário!

3 Comentários:

João Lisboa disse...

Obrigado pelo teu post.
De facto a minha Mãe era isso que contas. Não tinha medo da morte ou de perdas. Sentia-se realizada!
Tinha uma preocupação muito especial com uma pessoa, que me pediu para eu cuidar. De resto, como ela dizia, tinha criado os filhos, estava em Paz!

Anónimo disse...

Dizem que as pessoas vêm ao mundo com uma missão a da sua vó foi muito bem cumprida, em todos os sentidos e de forma tão linda e tão humana, que mesmo eu que nem sequer a conheci reconheço e sinto saudade.
E mais: cabelos tão lisos que o vento pedia licença pra passar.

Lilith disse...

João:
Não tens que agradecer. Ela era tua mãe, mas também minha avó.

Gabi:
De facto a minha avó deixa saudade a todos que a conheceram.