Adolescência

sábado, setembro 09, 2006

Poucas memórias ficaram dele, pois nem mesmo me lembro da sua aparência ou do seu nome. Recordo-me somente que eu era mais velha que ele talvez uns 2-3 anos. Mas foi com ele que desvirginei meus lábios em beijos loucos de carne e saliva. Finalmente, alguém me desejou com tesão desesperado e urgente, não dando segundos pensamentos ao que estava a ser vivenciado poderia ou não ser traduzido em poesia. É claro que o meu adolescente projecto a homem, enevoado pelo torpor sexual, nunca tinha ouvido falar da poesia erótica e nem eu me atreveria a quebrar o momento com alguma dissertação sobre o assunto, embora tenha uma vaga ideia de lhe ter cantado “Strangers in the Night” de Frank Sinatra, o que deixou o rapaz bastante confuso e achando que eu não regulava bem.
De volta ao Porto, as novas experimentadas sensações não saíam do meu pensamento e o meu lado romântico de heroína de romance de cordel soltava-se a cada passo, fantasiando memórias futuras com o meu excitável adolescente que nunca ganharam estrutura nem pés para andar.
Voltei a estar com ele umas semanas depois, mas o encanto tinha-se quebrado. Quando me beijava não conseguia sentir o fogo e vontade de o devorar que havia sentido da 1ª vez. Os beijos ainda que gulosos não traziam a paixão com eles. E o adolescente, que aprendia rápida e vorazmente as lições de Braille, queria mais do que troca de fluidos e de línguas entre as nossas bocas.
Quando senti uma mão desajeitadamente frenética procurando algo entre as minhas coxas pensei, apesar dos amassos e beijos despertarem-me calores apenas sonhados vagamente, aquele jovem tinha muito caminho para percorrer até saber tocar no prazer duma mulher. Mas porquê criticá-lo, se há homens adultos que até hoje não o sabem, nunca o souberam e têm imensa raiva de quem sabe? Bom, a exploração às partes íntimas quedou-se por ali para grande desagrado dele, pois já teria, paralelamente aos meus sonhos, idealizado outros sonhos mais palpáveis.
Contudo, a minha veia romântica é viciada até hoje e mesmo nesses anos iniciáticos já fazia das suas. Assim, mesmo tendo achado que o meu jovem assanhado não seria bem aquilo que eu necessitava, decidi enquadrá-lo no meu modelo de “amor louco, eu morro se não te vejo, se não te sinto aqui e agora”. Desnecessário será dizer que o rapaz era muito mais esperto que eu, no que toca a perceber o que são vibrações físicas entre dois corpos de sexos opostos e rapidamente tinha encontrado substituta mais colaborante para prosseguir os seus estudos profundos sobre o corpo feminino. Chorei algumas lágrimas, é certo, mas se for honesta, não posso afirmar que fiquei inconsolável durante muito tempo.

5 Comentários:

oromo disse...

Hum!! Interessante esta descrição do teu lado mais romântica,pois de certeza que não se esquece o calor tão diferente,quando se mergulha numa paixão.
Pode-se querer tanto e nunca peder-se,e ao mesmo tempo despertar as nossas fantasias e a realidade de sentir o calor e ficar molhado de sour de corpo e alma delirando com tanto amor...
adorei o teu post
bjinhos querida amiga.

Yashmeen disse...

Eu percebo isso. São aquelas necessidades urgentes de sentir apenas, sem pensar, sem racionalizar. Quando conseguimos aliar isso ao amor e quando existe aquele abraço no fim, está tudo perfeito.

Anónimo disse...

Temos tema novo neste blog!
Sempre a variar nos temas que apresentas e continuas a surpreender-nos com o à vontade na forma como os abordas e na riqueza da linguagem que utilizas e nas emoções que transmites!
Óptimo post,
Bjs.

Anónimo disse...

Cara autora:

Embora distante em outras galáxias, lembro-me de ter escrito que sempre que pudesse daria uma espreitadela neste blog de tão versátil autora. E não foi só a minha curiosidade agraciada ( bem como através de uma leitura corrida mas atenta ) que vislumbrei que o correr das linhas, em textos frescos, fortes, sensíveis,... humanos, te caracterizam como uma pessoa de forte temperamento, uma cultura que ultrapassa a mediania e o sentido profundo da sensibilidade humana, tão rara nos dias que correm.
Voltarei a reencontrar-te numa próxima paragem. Por agora, ofereço-te apenas:

" Há uma vontade de encontrar e cantar a nossa própria canção, de estender pernas e braços e de os lançar numa dança tão louca, que nada deixe em descanso...
Que desperte o anseio pela viagem solitária."

Barbara Lazear Ascher, em " PLAYING AFTER DARK "

Anónimo disse...

Qualquer mulher sabe do que falas. Post muito engraçado.
Beijinhos