Lua Nova

quinta-feira, agosto 31, 2006

Hoje, vou escrever sobre alguém que me diz, num jeitinho que só ele tem e com olhinhos de “ratinho perspicaz”, gostar mais de mim que eu dele. Nada é mais falso que essa afirmação. Na história completa da sua vida, existem inúmeros factores, alguns anteriores ao seu nascimento, que comprovam exactamente o contrário. Muitos deles provavelmente nunca os conhecerá. Outros irão ser-lhe desvendados em doses “homeopáticas”, porque necessitarão de ser “digeridos” com alguma calma. Por fazerem parte da sua história pessoal, não me irei pronunciar sobre eles.
A escritora Isabel Allende escreveu no seu livro “Paula” ter sabido intuitivamente o momento exacto da concepção da sua filha. Curiosamente tive essa mesma sensação, muito embora estivesse longe das minhas conjecturas ficar grávida àquela época. E, mesmo antes de saber o sexo, através da habitual ecografia dos 4 meses, sabia que seria um rapaz. Não me perguntem porquê. Era daquelas certezas inabaláveis. Posso garantir que não tinha qualquer preferência, se tivesse nascido uma menina teria sido igualmente uma alegria enorme. A escolha do nome foi pacífica. Teria de ser nome pequeno (João – José – Diogo – Bruno). Após algumas consultas familiares sobre o tema, decidi-me por João que, em hebraico significa: “Deus é misericordioso”.
A maioria das mães e dos pais (felizmente certos homens começam a ser mais interventivos e a aceitar duma forma tranquila o seu lado paternal) sabe do que falo. Quando esses seres pequeninos entram na nossa vida, viram-na de cabeça para baixo sem pedir licença a ninguém. Irremediavelmente somos invadidos por um sentimento de protecção em relação a esse novo ser, mas também em relação ao mundo. Passamos a sentir todas as crianças como se fossem nossas, somos muito mais atentos ao sofrimento dos outros e as injustiças magoam-nos particularmente.
Ainda hoje me lembro da expressão do seu rosto pequenino e curioso quando, acabado de nascer, a parteira o colocou nos meus braços. Chorava naquele sonido de bebé recém-nascido, igual ao miar de gatinho mimado. Bastou que lhe sussurrasse algumas palavras para deixar de chorar e fixar os seus olhos arregalados em mim, num misto de espanto e curiosidade inata que ainda hoje lhe é tão característica. Entre nós, foi amor à primeira vista, que suspeito continuará pela vida fora. Tivemos e temos nossos momentos conturbados de adaptação e iremos ainda discordar de muita coisa (mãe teimosa só poderia ter filho teimoso, não é?). No entanto, a sua chegada foi a maior benção que alguma vez poderia pedir ou sequer imaginar. Por isso o seu nome só poderia ser João. Deus foi misericordioso com ele, mas mais ainda o foi comigo!

3 Comentários:

Yashmeen disse...

Bolas. Fiquei com lágrimas nos olhos. Este texto podia ter sido escrito por mim, porque senti exactamente as mesmas coisas. Lindo.

Anónimo disse...

Tô mais encantada ainda como o teu pequeno.
Parabéns pelo rebento amiga!

Anónimo disse...

Como falar desse João que está ali na foto a olhar para mim, com aquele olhar doce e curioso, a querer, tudo apreender? não é fácil!
As palavras são pequenas para essa dádiva que tiveste e que repartiste connosco!
Como falar desse João, lindo e traquinas mais o seu skate?
Como falar desse teu João, esse teu pedaço de vida, que já toma conta de ti e das tuas saidas? "Mãe onde estás?"
Ainda bem que temos este João!
No melhor e no pior, é sempre o nosso João. É sempre o meu Sobrinho-Neto, João Afonso!!!
Bjs