Existir ou Não Existir - I Parte

terça-feira, agosto 15, 2006

Ontem, um amigo meu confidenciava-me que sentia falta dum relacionamento amoroso, quanto mais não fosse para poder partilhar com alguém os pormenores mais insignificantes do dia-a-dia. Comentei com ele, em tom de brincadeira, que por vezes nos apetece ter alguém nem que seja para desabafar: “dói-me a unha do pé!”, o que não deixa de ser verdade. Lembro-me de ter lido um comentário de alguém, que os relacionamentos, principalmente os amorosos, eram a prova real da nossa existência, pois, supostamente, o outro ser era a testemunha perfeita e privilegiada da nossa efémera passagem pela vida terrena. Achei a ideia linda e romântica como sou, sem nunca admiti-lo abertamente, pensei ser daquelas verdades poéticas incontornáveis, que brotam de cérebros iluminados pelo raciocínio clarividente, só acessíveis a poucos. No entanto, reflectindo depois mais a frio dei conta que havia tido relacionamentos afectivos, talvez não muito efectivos, mas afectivos com toda a certeza, pelo menos da minha parte o foram, em que, por razões várias o raio da unha doía-me mesmo e naquele momento, não tinha ninguém a quem me virar para o dizer (e quem fala numa unha, fala num pequeno acidente com o carro, numa chatice com o trabalho, ou algo mais grave como uma trombose, ou qualquer outra situação mais aflitiva). Isso fazia de mim menos “existente”? O facto do parceiro andar mais preocupado com os problemas do escritório, e com o superior hierárquico o ameaçar de despedimento e não ter absoluta pachorra para me dar colo quando eu precisava (porque é disso mesmo que se trata – todos precisamos de “colo” mesmo que não queiramos aceitar essa realidade indesmentível), fazia de mim translúcida a raiar o transparente? Deixava de respirar com algum ataque súbito e fulminante? Não, claro que não. (... continua próximo post)

2 Comentários:

Anónimo disse...

A nossa existência neste planeta terra é para nós tão importante desde o momento que começamos a respirar,pois uma das coisa mais importantes que nos fez desenvolver e aprendermos foi o afecto que nos foi transmitido durante a infância.Portanto a nossa necessidade da existência é nos tão importante e não existir é a realidade da nossa vida depende desse afecto ou mesmo da atenção que necessitamos..(o colo é realmente importante para onosso equilíbrio emocional e psicológico)

Ps:texto interessante de ponto de vista emocional.

Anónimo disse...

Ter ou não ter colo,... eis a questão.

Cara Lilith, para quem se denomina a Lua Negra, tens uma sensibilidade bastante transparente e lúcida.
Uma intropecção ponderada e uma necessidade de transmitir o que te vai na alma, corre-te nas veias, numa nascente abrupta de águas límpidas.
Forte carga emotiva, denota uma maturidade fora da média e,... fico aguardar as próximas reflexões.
Parabéns,... tens alma de poetisa no sentido mais simples da vida.
De um leitor,