I Love You Baby!

terça-feira, outubro 10, 2006

Só quero refazer aqueles últimos 30 segundos. Intermináveis! Eterno filme em “slow-motion” que passa vezes sem conta dentro do meu cérebro, numa obsessão autista, até não ser capaz de afugentar mais as imagens, até cair em letargia cataléptica, anestesiada pela exaustão... Só peço isso: poder alterar os fatídicos últimos instantes na mesa de montagem, desta vida de classificação B, poder devolver-lhe a alegria adolescente com que invadia o meu dia-a-dia, poder dar a minha vida pela dele! Ser forte para o proteger de todo o mal – meus braços não foram suficientemente capazes para o prender à vida – ser Deus para retroceder no tempo e repor a justiça numa existência destroçada impunemente e sem propósito, assim: em fracção ínfima dum momento. Isso, queria ser Deus para reparar o mal que Ele sadicamente Espalhou – sim, Deus, estás a ouvir? A Ti, que tudo é possível, porquê aniquilá-lo dessa forma? Porque não eu? Jamais me importaria de ser eu. Então, para quê destruir os seus inofensivos sonhos de menino que abarcava o mundo nos seus projectos? Tu, que tudo Podias, nada Fizeste! Se isso fazia parte dos Teus planos, para quê deixá-lo crescer na esperança? Para quê deixar-me viver a minha mais perfeita esperança através do seu olhar? A sua voz repete-se incessantemente em mim numa última frase “Mãe, tenho medo…!” – não tenhas Amor, não vou deixar que nada de mal te aconteça. Menti, menti, menti…! Jamais me perdoarei por ter quebrado essa promessa de protecção perpétua que por Tua culpa fui incapaz de cumprir! Jamais Te perdoarei que ele tenha sentido o pavor da morte nesse último instante! Só quero voltar ao momento imediatamente anterior (não peço mais nada, só isso – por favor!), quando a vida ainda se agarrava a ele como naufraga em finado desespero e ficar aí, eternamente, alheada do sofrimento em redor, alienada dos suplícios dos outros e permanecer, aí, contigo meu Amor! E dizer-te o quanto te amo! E contar-te pela infinitésima vez, não omitindo qualquer pormenor, o dia em que mudaste a minha vida para sempre! E contar-te as histórias que tu mais gostas, aquelas que ambos polvilhamos com os mais adulterados e subversivos detalhes! E fazer os disparates mais estapafúrdios que te desmancham em saudáveis e claras gargalhadas! E prometer-te o “Labrador” que pedes há imenso tempo, mas que evito sempre com o politicamente correcto: “Vamos ver…”! E sentir o calor do teu abraço apertado à volta do meu pescoço, que quase me sufoca de alegria! E ouvir-te no teu perfeitíssimo, irrepreensível sotaque “I Love You Mum” (I Love You Too, Sweetheart)! E ficar aí, para sempre… contigo!

11 Comentários:

Anónimo disse...

Por mais que pra sempre seja muito tempo, o desejo de uma mãe/pai de proteger o filho de qualquer mal é verdadeiro e puro sinal de amor incondicional.

Anónimo disse...

Lindo!!!!,...sem pieguices ou lamechas. Apenas e só um pequeno nó no coração.
É bem verdade,... Amor de Mãe é só um.
Parabéns do amigo e leitor,

João Lisboa disse...

30 seg. - Tanto tempo. Uma infinidade de tempo.
Na mesa de montagem 30seg são uma infinidade de tempo.
Mais que um publicitário. Mais que um produto para vender.
Na mesa de montagem da vida, não é preciso tanto tempo. Talvez 1 seg. talvez até um frame. Um simples frame. O quadro; O instante; o momento...
Aquele em que a Mãe daria tudo, para remontar o filme da vida...
O momento sem retorno, para sempre!

Bjs

Yashmeen disse...

O Labrador. Foi um baque. Doeu fundo. Podia ser eu. Podias ser tu. Espero que nunca sejamos.

Anónimo disse...

O pesadelo de qualquer mãe/pai tornado realidade. Fiquei muito emocionada ao ler o teu post.
Bjs

Anónimo disse...

este post assusta. tanto.

Anónimo disse...

Sempre consegui e cá estou para comentar, como sempre faço.
Sempre interessnte o que escreves mas um pouco triste este texto...
Talvez ao ler este post me faça pensar nas fatalidades da vida que nos podem roubar aqueles que, apesar de todos os trabalhos, canseiras e problemas, amamos tanto!!!
Apesar de por vezes fazerem da nossa vida gato sapato e tanto nos exigirem é com apreensão que temo que situação semelhante possa acontecer comigo. É vida, sei, assim mesmo este escrito faz-me pensar em tudo isso e a riqueza vocabular que utilizas apenas acentua, apesar de toda a carga emocional subjacente, a importância de um filho na nossa vida!
Que mais dizer? Os comentários que os teus assíduos leitores vão fazendo apenas confirmam o que sempre te disse e tão bem sabes, tens talento para a escrita e não te limitas a fazê-lo em apenas um campo, daí, penso, a qualidade de tudo que escreves. A tua versatilidade é um dom!
Aproveita-o e não nos faças sofrer mais...um livro é sempre bem vindo.

Anónimo disse...

Vou recordar este texto
tão triste e esmagador.

É uma verdadeira proeza literária.

Parabéns.

Lilith disse...

Caro Anónimo:

Obrigada pelos seus comentários extremamente elogiosos, sobre os meus "posts".
Os meus parabéns pelo seu português correcto!
Posso saber o seu nome, caro anónimo?

Saudações

Lilith

Anónimo disse...

Meus comentários são apenas honestos.

Você merece muito mais, merece ser publicada
algum dia.

Muito obrigado.

Anónimo disse...

Obrigado pela sua bondade e talento.

Parabéns.