Amanhã, Logo se Vê

quinta-feira, julho 31, 2008

O mundo parou aqui dentro. Nada move. Devo ter deixado de respirar. Nem mesmo tu conseguirias hoje o milagre de me ver renascer. Hoje não quero ninguém. Não reconheço ninguém. Não sei de ninguém. Não salvo ninguém. Não quero ser salva. Deixem-me aqui no meu canto do mundo parado. Estático. Apodrecendo devagarinho. Prometo não feder na minha podridão. Não vos incomodo. Não quero ser incomodada. Cansei de me reinventar uma e outra e ainda uma outra vez e nascer sempre a mesma. Pior do que isso. Renascer em adulteradas cópias de péssima qualidade de mim mesma. Por isso, só por hoje deixem-me morrer em paz (amanhã, logo se vê). Desapegada de tudo. Não odiando ninguém e, principalmente, não amando ninguém. É verdade. Esse dia haveria de chegar. Hoje nem a ti te quero por perto. Não te sinto cá dentro. Obriguei-te a desencarnar de mim. Não te levo comigo. Qual mágico decrépito, já não consigo tirar da cartola coelhos presos pelas orelhas e no entanto, estou perfeitamente nas tintas para os assobios voyeuristas da plateia. Viro-te as costas. Encolho os ombros. Não quero saber. Não me importa. Só quero morrer em paz. Não anunciem a minha morte. Ninguém notará a minha ausência (nem tu darás pela partida nem sentirás a minha falta - não quero que sintas a minha falta!). Também ninguém dirá: era tão boa pessoa. Porque todos os mortos ficam boas pessoas e eu não quero morrer e virar boa pessoa. Nem má pessoa. Não quero ser nada. Nem tão pouco que me lembrem. Não quero lágrimas, nem adeus desesperados. Esqueçam-se de mim. Tal como hoje, me esqueci de vós.

4 Comentários:

Anónimo disse...

É uma mentira piedosa e doce. Nunca se esqueça, gentil e sensível artista!

Muito carinho para você.

Anónimo disse...

Cara amiga:

Mais do que isso... deixo-te um poema.

Eu quis um belo passado e, no presente,
sem crença, sem amor, sem confiança,
conservo desse amor só a lembrança
e tudo para mim é dor premente.

Não há sentir algum que me contente,
que possa alimentar uma esperança,
e,quando a simpatia alguém alcança,
do amor meu pensamento voga ausente.

Neste sofrer cruel, não há ninguém
que possa conceder-me aquele bem
que, no presente, possuir queria.

E, já que não consigo, neste mundo,
sentir, enfim, amor assim profundo,
vou procurando um sonho cada dia.

LEMBRANÇA da poetisa Lilaz Carriço

Com amizade do Paulo

.... que vai sonhando.....

Anónimo disse...

Cada dia mais solitário que o outro! Onde estás Lua? Vem ter conosco pois nos nao podemos ir ter contigo!

danyy disse...

concordo com akela pessoa k disse k cada dia é mais solitário k o outro! Lool